terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Aventura: Dicas para ver a dama da noite



Ver a aurora boreal sempre foi, para mim, um grande sonho dourado, em termos de viagem. Por mais que imaginasse aquele show de luzes dançando sobre a minha cabeça, o que eu veria iria superar as minhas mais loucas expectativas!
Stafafell, Islândia
Não sou nenhum expert em aurora boreal e nem de longe tenho a experiência do meu guru Marco Brotto, mas tenho conseguido me virar.

Podemos dizer que o espetáculo da aurora acontece 365 dias por ano e 24 horas por dia, em algum lugar do mundo. Mas, se é um fenômeno tão comum, por que é tão difícil de se ver? Porque ela, como muitas belas mulheres, se faz de difícil, tem os seus segredos e precisa ser conquistada.
Abisko, Suécia
Para ver a “dama da noite”, algumas variáveis precisam acontecer simultaneamente. E basta uma delas não ocorrer, para que você deixe de presenciar um espetáculo belíssimo. Algumas dessas variáveis você pode controlar, outras você não controla nem com reza braba!
Skibotn. Noruega
Se um dia você desejar ver a aurora boreal, comece escolhendo um local apropriado. Como ela ocorre perto dos círculos polares, você precisar viajar para uma cidade que esteja nessa região. Tromso, na Noruega, é uma das “capitais” mundiais da aurora boreal. Tem acesso por avião, bons hotéis, boas estradas ao redor e fica em uma região turística. É claro que você pode ver a aurora em Saint Anthoniov of Brejosekovsky (a versão russa de Santo Antônio do Brejo Seco), no interior da Sibéria, mas garanto que é bem mais prático chegar a Tromso. Outras excelentes opções são Reykjavik, na Islândia, e Fairbanks, no Alasca.
Jokulsarlón, Islândia
Se tiver aurora hoje, ela irá aparecer dentro do círculo verde da ilustração abaixo. Esse círculo será mais ou menos largo dependendo da intensidade da aurora. O gráfico representa uma previsão de aurora tipo Kp3, ou seja, aurora de intensidade moderada. É claro que a aurora pode ser vista em latitudes mais baixas, mas para isso a aurora tem que ser intensa, MUITO INTENSA!
Gráfico da oval da aurora para intensidade Kp3 -
Geophysical Institute - University of Alaska Fairbanks
Outra variável importante é a luz. Ou melhor, ausência de luz. Você vai precisar sair de locais luminosos, como cidades, para poder ver a aurora. Tal como as estrelas são melhor apreciadas no campo do que na cidade, o mesmo acontece com a aurora. Da mesma forma, quanto mais intensa for a luz da lua, menos se vê a aurora. Ou seja, ao planejar sua viagem, fuja dos períodos de lua cheia!
Honningsvag, Noruega
Apesar de muita gente afirmar que a aurora, não ocorre no verão, isso não é verdade. O que acontece é que nas regiões próximas do polo, durante o verão, jamais escurece o suficiente para podermos apreciar as auroras. O oposto do que acontece no inverno. Quanto mais longas são as noites, maior a chance de ver esse maravilhoso espetáculo. O período de setembro a abril é o melhor para apreciar a aurora.

Essas duas variáveis, local e intensidade de luz, você pode controlar. Para as outras duas, reze pra ter sorte.
Somaroy, Noruega
A aurora depende diretamente da intensidade da radiação solar que o campo magnético da Terra está recebendo e quão forte esse campo magnético está protegendo nosso planeta. Se a radiação está pequena (Kp1, por exemplo), o campo magnético da Terra irá bloquear a maior parte dessas radiações e as auroras serão muito fracas e sutis. Quanto maior for a radiação solar, maior será o Kp, mais intensa será a aurora e maior será o número de locais onde ela poderá ser vista. Ou seja, reze para ter uma baita explosão solar enquanto estiver por lá!
Trollholmsund, Noruega
A última variável é o fator meteorológico. Não adianta estar no local certo, bem escuro, a radiação estar intensa e... o céu estar nublado. Aí, my friend, você não vai ver absolutamente NADA!!! E esse é um problema que se encontra com muita frequência na Islândia: céu nublado!
Varmahlid, Islândia
Uma dica final: quanto mais informações você tiver, maiores serão as chances de ver a aurora boreal. Para isso, use e abuse da Internet para acessar as informações desejadas. Eu uso os sites abaixo quando estou caçando a “dama da noite”!
Mount Hatta, Vik, Islândia
Sites com informações sobre aurora:

http://en.vedur.is/weather/forecasts/aurora/ - previsão de tempo e de aurora para a Islândia
Previsão de tempo e de aurora para a Islândia. Pra variar, a Islândia está completamente encoberta!!!
http://www.gi.alaska.edu/AuroraForecast/NorthPolar - Geophysical Institute - University of Alaska Fairbanks; previsão de aurora para várias partes do mundo e outras dicas

http://flux.phys.uit.no/ArcMag/ - Tromso Geophysical Observatory; gráficos atualizados da atividade magnética coletada em diversas estações do mundo; excelente para a Noruega
Gráfico de atividade magnética - Tromso Geophysical Observatory
http://www.solarham.net/ - Solar Ham; dezenas de informações, a maioria das quais não tenho a menor noção do que significam; das informações disponíveis uso muito o gráfico da oval de aurora e a previsão de 3 dias
Oval de uma aurora de intensidade Kp7 - deve ter sido de uma beleza incrível!!!
http://www.softservenews.com/Aurora.htm - Aurora Borealis Forecast; muito bom para a previsão de aurora para os próximos 60 minutos; também fornece o gráfico de oval da aurora
Com todas essas informações, a bola agora está com você. No entanto, sugiro que tenha sua primeira experiência acompanhado por um especialista no assunto. No Brasil eu recomendo o Marco Brotto.

GUDILUQUI!!!!!

segunda-feira, 2 de maio de 2016

Mergulhando pelo mundo – Pirapama



Veja também os outros posts da série "Mergulhando pelo mundo": "Afinal, o que é mergulhar?", "SS Sapona e Castor", "Rosalinda e Pinguino", "Captain Slate", "Eagle e USS Arizona" e "O Cruzeiro do Barba Negra"


Naufrágios são, normalmente, grandes mergulhos. Mas são as histórias que estão por trás que me fascinam nos naufrágios. Esta que vou contar hoje é muito, mas MUITO pitoresca.
Mapa da localização do Pirapama
Você já soube de algum naufrágio causado por dor de corno? É o que conta a lenda dos naufrágios do Pirapama e do vapor Bahia, afundados em 1887, perto de Recife.
O vapor Pirapama, ainda em atividade
A versão popular conta que os comandantes dos dois barcos eram inimigos mortais por conta das cantadas que o comandante do vapor Bahia jogava em cima da esposa do comandante Carvalho, do vapor Pirapama. Cego de ódio, o comandante Carvalho jurou que mataria seu inimigo na próxima vez em que se encontrassem.
Acontece que se encontraram em alto mar. Ao avistar o barco do seu inimigo, o comandante Carvalho teria jogado propositalmente o seu barco contra o Bahia, provocando o seu afundamento em menos de dez minutos.

Como o choque se deu por volta das 23:00, a maioria dos passageiros e tripulantes estava em seus camarotes. Cerca de duzentas pessoas estavam a bordo e mais de 40 vieram a morrer no desastre. Entre os mortos estava o comandante jurado de morte.
O Pirapama, fazendo água e à meia força, ainda conseguiu retornar ao porto de Recife, deixando os náufragos do Bahia à própria sorte. Foi aberto inquérito e o comandante Carvalho foi denunciado por não ter prestado socorro. E o barco, apesar de ter sobrevivido ao choque, teria sido “condenado” e afundado ao largo de Recife.
Mapa dos destroços - fonte: Naufrágios do Brasil
Apesar da pitoresca versão popular, o mais provável é que o naufrágio tenha ocorrido por negligência ou imperícia de um ou até mesmo de ambos comandantes. Mas isso não importa. Que a versão popular tem todos os ingredientes para um belo filme, com altas doses de sexo, drama, suspense, ação e intrigas, ah isso tem!
Independente das reais causas do acidente, o Pirapama proporciona um fantástico mergulho. Era um vapor com propulsão a rodas de pás e hoje sua maior estrutura são os restos do casco.

Como a maioria dos naufrágios, a fauna existente no Pirapama é incrível. Lá podem ser encontrados variados cardumes, além de tartarugas e uma enorme arraia que fez do barco a sua moradia.
Um mergulho inesquecível, que você vai adorar!

quinta-feira, 24 de março de 2016

Preconceito - Turismo sexual



Veja também os outros posts da série "Preconceito": "Somos todos preconceituosos". "C'est porc monsieur!", "Aceitação e tolerância não são sinônimos", "Só falta quererem ser iguais!" e "La Diva Argentina"


Preconceitos e estereótipos andam sempre de mãos dadas. 

Nossa propaganda oficial sobre Brasil tanto exaltou o carnaval (muitas vezes apenas pelo seu lado erótico) e a beleza das nossas mulheres (mostrando mulheres seminuas em nossas praias) que mulher brasileira é sinônimo de mulher “fácil” no exterior.
Cartão postal vendido em Fortaleza
Nos dois anos que vivi em Miami, todas as vezes que me identificava como brasileiro, quase sempre um dos primeiros comentários que meu interlocutor fazia era “beautiful women” (mulheres bonitas). Mais que isso, nas propagandas do GP do Brasil de F1 de 2015, a rede NBC Sports mostrava uma mulata sambando e uma mulher num biquíni, daqueles que se embrulha na própria etiqueta de tão pequeno, saindo do mar. Tudo a ver com automobilismo, concorda?! Confesso que isso me incomoda e não é pouco!
Deprimente outdoor da boate Bahamas, em São Paulo
E é essa triste imagem que alimenta o motor que move todo o turismo sexual em Fortaleza, Recife, Salvador e Rio. Tal como Tailândia, Filipinas, Cuba, República Dominicana e outros países latino-americanos, do Caribe e do Sudoeste Asiático, o Brasil é destino preferencial do chamado “turismo sexual”. Deprimente!
Outdoor de motel em Salvador, por ocasião da Copa de 2014
Assim como você viaja para desfrutar dos prazeres da culinária italiana ou de degustar vinhos em um passeio por Bordeaux, o turismo sexual explora estereótipos como “destinos exóticos”, “cultura diferente”, “permissividade sexual dos trópicos” e “máquinas de fazer sexo” que, tal como a gastronomia, podem ser livremente consumidos pelo turista estrangeiro.
Cartaz de propaganda da Embratur
Não sei se a coisa melhorou mas, na minha época, quem viajava pelo Brasil, à serviço do Governo Federal, sabia muito bem que as diárias pagas eram tão precárias que, na maioria das vezes, o pobre do servidor tinha que fazer a opção entre comer e dormir... porque se quisesse as duas coisas provavelmente ia tirar dinheiro do bolso. A opção era rachar a diária com algum companheiro de viagem.
Capa de revista britânica de turismo
Mas se, por acaso, tivesse que viajar sozinho aí a coisa pegava e o hotel em que você se hospedava acaba sendo aquele que perdeu algumas estrelas e as que restaram com toda certeza estão opacas e perderam o seu brilho a algumas décadas.
Propaganda de turismo sexual no Brasil feita no exterior
Foi o que aconteceu comigo em uma viagem à Recife. Fiquei em uma área nobre, na beira da praia, em Boa Viagem. Do hotel, não se podia dizer o mesmo. Decadente, havia sido tomado por alemães de terceira categoria que, usando a diferença entre um Marco alemão forte e um Cruzado esquálido, invadiam o Nordeste em busca dos prazeres fáceis do turismo sexual.
Artigo em site no exterior
Já amanheciam com uma garrafa de cerveja na mão e sempre com sua “companheira” a tira-colo. Essas por sua vez, viam em cada gringo a chance de tirar a sorte grande e sair da vida miserável que tinham aqui no Brasil: casar e ir morar na Alemanha era o sonho de 11 em cada 10 daquelas prostitutas.
Camisas produzidas pela Adidas para a Copa de 2014
Como a concorrência era grande e nem sempre leal, elas se desdobravam em mimos para os seus parceiros, se submetendo a situações muitas vezes vexatórias. Com um detalhe: todas falavam alemão. Pelo menos o alemão básico que dava para entender e se comunicar com o seu “proprietário”. Acredito que o vocabulário não deveria ser lá muito extenso... até mesmo porque em se tratando de sexo, quanto menos papo, melhor, não é mesmo?!

Mas todo sonho pode virar pesadelo num piscar de olhos.
Outro cartão postal de Fortaleza
Tive um chefe que foi diplomata em Berlim e, devido às suas funções, tinha que lidar com o outro lado da moeda dessas brasileiras que tiraram a “sorte grande”, se casaram e foram morar na Alemanha.

Quando procuravam a ajuda da Embaixada Brasileira era porque a situação pessoal havia superado, em muito, o limite do suportável.

Muitas delas viviam em estado de quase escravidão. O casamento era, para o alemão, apenas uma forma barata de ter uma empregada, além de sexo fácil, farto e gratuito.
Foto publicada no jornal americano Guardian Liberty Voice de Nevada sobre turismo sexual no Brasil
E ai da brasileira se ousasse reclamar! O couro comia e a insatisfação era calada com a agressão física. Reclamar para a polícia alemã era pura tolice. Muitas vezes nem passaporte tinham, pois tinham sido tomados pelos seus feitores. Dinheiro para a passagem de volta? Tolinho! Você acha mesmo que escravidão é remunerada.
Enquanto isso, em Recife...
Como tudo na vida, não se pode generalizar. Nem todo casamento de alemão com prostituta brasileira dá errado, assim como a ilusão de que a vida de casada seria um paraíso, que na maioria das vezes esvaecia mais fácil que fumaça, algumas vezes esse sonho acabava se tornando realidade.
Cenas de outra capital nordestina
Mas, assim como um em cada 100 milhões acaba ganhando na Mega-Sena, sempre tem uma Cinderela que conseguia achar seu príncipe. Mas não se iluda, pode beijar à vontade que a maioria dos sapos vai continuar sendo sapo.

É claro que estou citando casos extremos que esse diplomata comentou comigo. Mas é natural que, onde o “amor” é apenas de conveniência, as diferenças sociais, culturais, financeiras, assim como as expectativas radicalmente opostas de cada “parceiro”, acabem criando um fosso muitas vezes intransponível.
É, meus caros, infelizmente esse é o retrato do Brasil lá fora!!!
E, segundo esse diplomata, não foram poucas as vezes onde a situação da brasileira era realmente desesperadora.