quinta-feira, 24 de março de 2016

Preconceito - Turismo sexual



Veja também os outros posts da série "Preconceito": "Somos todos preconceituosos". "C'est porc monsieur!", "Aceitação e tolerância não são sinônimos", "Só falta quererem ser iguais!" e "La Diva Argentina"


Preconceitos e estereótipos andam sempre de mãos dadas. 

Nossa propaganda oficial sobre Brasil tanto exaltou o carnaval (muitas vezes apenas pelo seu lado erótico) e a beleza das nossas mulheres (mostrando mulheres seminuas em nossas praias) que mulher brasileira é sinônimo de mulher “fácil” no exterior.
Cartão postal vendido em Fortaleza
Nos dois anos que vivi em Miami, todas as vezes que me identificava como brasileiro, quase sempre um dos primeiros comentários que meu interlocutor fazia era “beautiful women” (mulheres bonitas). Mais que isso, nas propagandas do GP do Brasil de F1 de 2015, a rede NBC Sports mostrava uma mulata sambando e uma mulher num biquíni, daqueles que se embrulha na própria etiqueta de tão pequeno, saindo do mar. Tudo a ver com automobilismo, concorda?! Confesso que isso me incomoda e não é pouco!
Deprimente outdoor da boate Bahamas, em São Paulo
E é essa triste imagem que alimenta o motor que move todo o turismo sexual em Fortaleza, Recife, Salvador e Rio. Tal como Tailândia, Filipinas, Cuba, República Dominicana e outros países latino-americanos, do Caribe e do Sudoeste Asiático, o Brasil é destino preferencial do chamado “turismo sexual”. Deprimente!
Outdoor de motel em Salvador, por ocasião da Copa de 2014
Assim como você viaja para desfrutar dos prazeres da culinária italiana ou de degustar vinhos em um passeio por Bordeaux, o turismo sexual explora estereótipos como “destinos exóticos”, “cultura diferente”, “permissividade sexual dos trópicos” e “máquinas de fazer sexo” que, tal como a gastronomia, podem ser livremente consumidos pelo turista estrangeiro.
Cartaz de propaganda da Embratur
Não sei se a coisa melhorou mas, na minha época, quem viajava pelo Brasil, à serviço do Governo Federal, sabia muito bem que as diárias pagas eram tão precárias que, na maioria das vezes, o pobre do servidor tinha que fazer a opção entre comer e dormir... porque se quisesse as duas coisas provavelmente ia tirar dinheiro do bolso. A opção era rachar a diária com algum companheiro de viagem.
Capa de revista britânica de turismo
Mas se, por acaso, tivesse que viajar sozinho aí a coisa pegava e o hotel em que você se hospedava acaba sendo aquele que perdeu algumas estrelas e as que restaram com toda certeza estão opacas e perderam o seu brilho a algumas décadas.
Propaganda de turismo sexual no Brasil feita no exterior
Foi o que aconteceu comigo em uma viagem à Recife. Fiquei em uma área nobre, na beira da praia, em Boa Viagem. Do hotel, não se podia dizer o mesmo. Decadente, havia sido tomado por alemães de terceira categoria que, usando a diferença entre um Marco alemão forte e um Cruzado esquálido, invadiam o Nordeste em busca dos prazeres fáceis do turismo sexual.
Artigo em site no exterior
Já amanheciam com uma garrafa de cerveja na mão e sempre com sua “companheira” a tira-colo. Essas por sua vez, viam em cada gringo a chance de tirar a sorte grande e sair da vida miserável que tinham aqui no Brasil: casar e ir morar na Alemanha era o sonho de 11 em cada 10 daquelas prostitutas.
Camisas produzidas pela Adidas para a Copa de 2014
Como a concorrência era grande e nem sempre leal, elas se desdobravam em mimos para os seus parceiros, se submetendo a situações muitas vezes vexatórias. Com um detalhe: todas falavam alemão. Pelo menos o alemão básico que dava para entender e se comunicar com o seu “proprietário”. Acredito que o vocabulário não deveria ser lá muito extenso... até mesmo porque em se tratando de sexo, quanto menos papo, melhor, não é mesmo?!

Mas todo sonho pode virar pesadelo num piscar de olhos.
Outro cartão postal de Fortaleza
Tive um chefe que foi diplomata em Berlim e, devido às suas funções, tinha que lidar com o outro lado da moeda dessas brasileiras que tiraram a “sorte grande”, se casaram e foram morar na Alemanha.

Quando procuravam a ajuda da Embaixada Brasileira era porque a situação pessoal havia superado, em muito, o limite do suportável.

Muitas delas viviam em estado de quase escravidão. O casamento era, para o alemão, apenas uma forma barata de ter uma empregada, além de sexo fácil, farto e gratuito.
Foto publicada no jornal americano Guardian Liberty Voice de Nevada sobre turismo sexual no Brasil
E ai da brasileira se ousasse reclamar! O couro comia e a insatisfação era calada com a agressão física. Reclamar para a polícia alemã era pura tolice. Muitas vezes nem passaporte tinham, pois tinham sido tomados pelos seus feitores. Dinheiro para a passagem de volta? Tolinho! Você acha mesmo que escravidão é remunerada.
Enquanto isso, em Recife...
Como tudo na vida, não se pode generalizar. Nem todo casamento de alemão com prostituta brasileira dá errado, assim como a ilusão de que a vida de casada seria um paraíso, que na maioria das vezes esvaecia mais fácil que fumaça, algumas vezes esse sonho acabava se tornando realidade.
Cenas de outra capital nordestina
Mas, assim como um em cada 100 milhões acaba ganhando na Mega-Sena, sempre tem uma Cinderela que conseguia achar seu príncipe. Mas não se iluda, pode beijar à vontade que a maioria dos sapos vai continuar sendo sapo.

É claro que estou citando casos extremos que esse diplomata comentou comigo. Mas é natural que, onde o “amor” é apenas de conveniência, as diferenças sociais, culturais, financeiras, assim como as expectativas radicalmente opostas de cada “parceiro”, acabem criando um fosso muitas vezes intransponível.
É, meus caros, infelizmente esse é o retrato do Brasil lá fora!!!
E, segundo esse diplomata, não foram poucas as vezes onde a situação da brasileira era realmente desesperadora.