Veja também o outro post da série “Preconceito”: "Somos todos preconceituosos"
Tá
legal, reconheço que tenho cara de terrorista do Hesbollah e até faço piada
disso. Mas a verdade é que acabo sentindo isso na própria pele e de diversas
formas, principalmente no exterior.
Às
vezes nem me perguntam a origem e já me tratam como se eu fosse árabe.
O "famoso" Sheikh Edubdullah |
Certa
vez eu estava na fila de um restaurante de uma organização internacional em Genebra. No cardápio,
um delicioso prato cuja carne era um daqueles lindos e saborosos salsichões
alemães. Foi esse o meu pedido. O atendente nem deu pelota para o que eu tinha
dito e replicou:
– C'est porc monsieur! (É porco, senhor!)
A
ficha não caiu e pedi de novo o belo salsichão. Mais uma vez ouvi, desta vez de
forma bem enfática:
– C'est porc monsieur!
Um delicioso salsichão alemão - árabes e judeus não sabem o que estão perdendo! |
Foi
aí que “captei a mensagem”! O atendente estava me avisando que a carne era de
porco porque ele pensava que eu era árabe... e, por tabela, muçulmano! E, como
você sabe, para muçulmano porco é carne impura. Assim como para os judeus,
comer carne de porco é um ato religiosamente proibido.
A
mesma coisa se repetiu anos depois em um McDonald’s do Aeroporto de Frankfurt, quando
pedi um sanduíche de lombo de porco. Só que dessa vez, assim que a atendente me
informou que o sanduíche era de carne de porco, lhe avisei que não era
muçulmano.
O letreiro "nem um pouco" preconceituoso - "O lugar mais seguro da terra. Nenhum muçulmano aqui dentro!" |
Fico
imaginando o escândalo que um muçulmano ou um judeu podem fazer se comerem
carne de porco sem terem sido avisados pelo atendente.
Na
minha última viagem à Europa, estava numa fila quando o senhor atrás de mim
falou algo como: مع كل هذا تبدو
مثل العربية ، الغريب
أبدا لديه مشاكل مع إدارة الهجرة الأمريكية
Fiz
uma cara de heimmm e ele repetiu a mesma coisa. Foi aí que entendi o que estava
acontecendo e disse a ele que não era árabe. Surpreso, ele me confessou que
tinha certeza de que eu era libanês!
Maomé lamentando: "-Outros profetas têm seguidores com senso de humor!..." |
Com
toda essa cara de árabe, curiosamente nunca tive problemas com a imigração
americana. Mas não foram poucas as vezes onde as autoridades européias me
dispensaram um tratamento “especial”. Mais perguntas que o padrão, revista
visual de minha bagagem, mais tempo de verificação nos registros de computador,
antes de receber o carimbo de entrada. Apesar de nada ser ostensivo ou agressivo,
é nítido o cuidado redobrado que recebo. (veja o post "Je ne suis pas arabe!")
Árabes em trajes típicos |
Se
apenas parecer árabe já lhe torna, aos olhos preconceituosos de uns e outros,
um terrorista potencial, imagine então um muçulmano com vasta barba,
paramentado com sua tradicional túnica e gorro de tricô na cabeça entrando na
fila do check-in de um vôo internacional. Seria divertido, se não fosse lamentável, observar os olhares e o ti-ti-ti, certamente maldosos, dos
ocidentais.
Cartoon francês sobre a discriminação que é provocada pelo véu |
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