Veja também o outro post da série “Grã-Bretanha”: “British Museum”
Em 2014 fizemos uma
maravilhosa viagem à Grã-Bretanha. Uma viagem completamente fora do tradicional
circuito turístico.
Conhecemos muitas pequenas
cidades da Inglaterra e Cornualha, mas, de tudo que vimos, a Escócia é, sem dúvida
alguma, o mais bonito. Tá legal que o tempo não colaborou muito. Esteve nublado
e com chuva boa parte da viagem. Mas assim é a Grã-Bretanha. Chuva e tempo
nublado fazem parte do cotidiano do britânico.
Além de dezenas de castelos seculares, a Escócia é também sinônimo de
uísque. Pra quem curte, um passeio imperdível! Não sou fâ de uísque, mas
visitar uma destilaria era algo que estava no nosso plano de viagem. Valeu a
pena!
Strathisla é a mais antiga destilaria da Escócia |
Escolhemos a Strathisla, destilaria que fabrica o malte que é base para
o famoso uísque Chivas Regal. É também a mais antiga destilaria em
funcionamento na Escócia, produzindo desde 1786, tendo sido comprada em 1950
pelos Chivas Brothers para garantir a produção do malte mais importante no
blend do seu uísque.
O nome Strathisla significa “vale do rio Isla”, em celta. Lá aprendemos
coisas curiosas a respeito da fabricação de um malte.
O processo se inicia com a torrefação e moagem da cevada. Depois disso se junta a turfa e a água pura proveniente de nascentes da região. Depois do processo de fermentação, é feita a filtragem e inicia-se a fase de destilação.
O bagaço é transformado em alimento para o gado. Gado alimentado por
rejeito de Chivas Regal deve ser muito chique, concorda?!!
O líquido destilado se divide em 3 partes “cabeça”, “coração” e “pé”, conforme o seu teor alcoólico. Apenas o coração, que contém o correto teor alcoólico é aproveitado. Do que é descartado, parte volta a ser destilada para fazer um aguardente de uísque.
Produto de uma dupla destilação, o malte que sai do alambique é tão
claro quanto qualquer cachaça. Sua cor dourada é adquirida no processo de
envelhecimento em tonéis de carvalho.
Outra coisa curiosa é a respeito de seu sabor. Ao contrário do que eu
imaginava, o sabor é proveniente do formato da torre de destilação do alambique.
Torres mais altas, mais baixas, mais bojudas... cada uma dá um gosto diferente
ao malte destilado. Jamais imaginei isso. Isso significa que, cada vez que a
destilaria aumenta a sua capacidade de produção, o novo alambique tem que ser
milimetricamente igual aos demais para que não haja qualquer variação no seu
sabor.
O líquido destilado será então armazenado em tonéis de carvalho, que já foram usados anteriormente para armazenar bourbon ou xerez, e envelhecido.
40 diferentes maltes fazem parte do uísque Chivas Regal, inclusive o conhecido Glenlivet |
O
Chivas Regal é um uísque resultante da mistura (blend) de mais de 40 diferentes
maltes. Curiosamente, com o fechamento de algumas destilarias ao longo dos
anos, a receita de um uísque vai tendo que ser adaptada, para evitar uma
alteração sensível no aroma e sabor que sempre notabilizou aquele produto.
Apesar da maioria dos armazéns de envelhecimento da Strathisla serem modernos, o antigo ainda é mantido, principalmente para visitação. Foi esse que visitamos... e o cheirinho de malte pairando no ar é delicioso.
Delicioso
e perigoso! Como esse cheirinho é proveniente da evaporação do malte armazenado
nos tonéis, o teor de álcool no ar é muito alto e pode fazer alguém se
embriagar sem ter tomado uma única gota de uísque!
No
processo de envelhecimento, cada tonel perde cerca de 2% do seu conteúdo ao
ano. É o que chamam a “parte do anjo” (angel’s share).
Vimos
um tonel de 60 anos de idade. No seu interior, apenas cerca de 30% do seu
conteúdo original, aguardando um evento super especial para ser usado: a
coroação do próximo soberano britânico.
Nesse momento a Chivas produzirá uma edição especial de uísque que deverá custar a bagatela de 50000 libras esterlinas CADA GARRAFA. Algo como R$ 281500,00. E aí, vai comprar quantas?!!!
A
visita terminou, obviamente, com uma degustação. Provamos os uísques de 8 e 12
anos e os maltes sem e com envelhecimento. Uma experiência fantástica! Não deu
outra, saímos de lá com uma garrafa de Strathisla debaixo do braço.
Manja aquele lema, “beba com moderação”? Foi exatamente o que fiz. Tomava o meu precioso Strathisla em doses de “conta gota”!
Fui tão
sovina, mas tão sovina que o Ômi Lá de Cima me obrigou a abrir mão dessa
preciosidade e presentear a um amigo.
Voltando de Miami, embalei tudo, mandei as caixas para a transportadora e me piquei para o Brasil. Acontece que o transporte de líquidos é proibido e a garrafa foi retirada da caixa. Melhor para o grande amigo e guitarrista Gil Lima, que herdou a garrafa e irá consumir por mim! O novo dono merece! Faça bom uso, Gil!!!
PS: Desapega,
desapega...Lição aprendida, Amado Mestre!!
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