Veja também o post "Aló, Presidente!"
Chávez esticou as canelas. Acho que demorou porque nem Deus nem o capeta estavam dispostos a aceitá-lo, tendo em vista as confusões que ele certamente irá aprontar, seja no céu, seja no inferno!
Não
importa se você o admira (o que certamente não é o meu caso) ou não, mas temos
que reconhecer que ele marcou uma época. Na Venezuela e no resto desta sofrida
América Latina.
Durante
minha vida profissional, fui cinco vezes à Venezuela em delegações oficiais e
participei sei lá quantas vezes de reuniões e eventos com os venezuelanos. Não
sou nenhum especialista em Venezuela bolivariana, mas posso falar um pouco do
que vi, vivi e conversei com meus amigos venezuelanos.
Chávez
é um produto do desencanto de uma sociedade com a podridão do seu sistema
político. Surgiu como o salvador da pátria, que engana a todos com o seu canto
de sereia. E temos que tomar cuidado para que esse mesmo fenômeno não se repita
por aqui. Já batemos na trave com o Collor, nosso caçador de marajás. Felizmente
não colou, mas aí está o PT achando que os fins justificam os meios!
Em um
momento onde as instituições estavam esgarçadas por décadas de desprezo da
oligarquia venezuelana pelos menos desfavorecidos e, onde a corrupção era algo
corriqueiro nas menores situações do dia-a-dia, surge o Chávez com um discurso
moralizador e em defesa das camadas mais pobres. Foi o mel na sopa!
Mas talvez
seja esse o maior legado do Chávez. A ruptura com esse sistema falido e uma
guinada em direção aos menos favorecidos, reduzindo a pobreza e a desigualdade.
O problema é como isso foi e continua sendo feito.
Fala-se
que o Chávez não pode ser considerado ditador, uma vez que foi eleito pelo
povo. Até concordo que foi eleito, mas isso não significa necessariamente democracia.
Ou então teríamos que considerar que nossa ditadura militar era igualmente
democrática. Afinal, tínhamos Congresso, o Supremo funcionava e votávamos,
lembra-se?! Situação bem semelhante ocorre na Venezuela. Mas as leis são
manipuladas para a manutenção do sistema e não há a menor independência dos
poderes.
Mais
que isso, ai de um funcionário público ousar se expressar contra o governo ou tomar
qualquer atitude que não tenha sido previamente autorizado. Não tenha dúvidas
que ele será sumariamente demitido e, como o governo é o grande empregador,
ficará na rua da amargura. A delegação venezuelana se borrava de medo da
representante do partido, que atendia pelo nome de Laila MacAdam. Não podiam
soltar um pum ou respirar sem que fossem autorizados e tudo o que diziam, mesmo
o mais banal, podia ser interpretado de uma forma política.
A
economia venezuelana sempre foi precária e fortemente dependente das
exportações de petróleo. Com todas as estatizações e intervenções bolivarianas nas
poucas empresas de capital privado, a economia foi para o espaço,
destruindo toda a estrutura produtiva venezuelana. A competitividade e
produtividade das empresas (incluindo a petroleira PDVSA) é zero, a inflação
chega aos 28% anuais, o câmbio oficial é uma obra de ficção, o desabastecimento
é notório, a corrupção continua na mesma e a violência é a maior de todo o continente.
Mas
como então que Chávez pode ser endeusado? Ah, meu caro, se você pensa que o
Bolsa Família escraviza, imagine então o que se passa na Venezuela, onde os dólares
fáceis do petróleo caro não deixa nunca de entrar nos cofres do governo. Se eu fosse
cidadão venezuelano, não tivesse um mínimo de esclarecimento e o "Comandante Chávez” me desse casa, comida e emprego e eu apenas precisasse fingir
que trabalhava, em troca de uma fidelidade canina ao "líder supremo", eu também
amaria de paixão esse indivíduo e aplaudiria como foca amestrada!
O
problema de todo esse assistencialismo é a dependência de tudo e de todos aos
preços caros do petróleo. Isso não se sustenta a longo prazo. Só não vê quem
não quer. OU NÃO PODE!
E aí
está outro problema venezuelano: o radicalismo com que os problemas nacionais
são discutidos. Quem é da oposição está contra a Venezuela, dizem os chavistas. São lacaios dos
americanos, inimigos do povo e exploradores dos mais pobres. Quem se opõe ao
bolivarianismo chavista certamente é um oligarca ou burguês. Você até pode
ter visto esse filme por aqui, mas não imagina o que se passa por lá!
Sob
forte comoção popular, não tenho dúvidas de que os chavistas ganharão fácil a
próxima eleição. O problema vai ser cair na realidade dura do futuro de médio e
longo prazo, sem ter a figura carismática do Chávez como respaldo.
Seja
como for, a Venezuela é um país lindo e os venezuelanos um povo amigo e
acolhedor. Certamente merecem dias melhores e menos sombrios que esse
bolivarianismo insano que faz o povo acreditar em mágica.
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