domingo, 21 de abril de 2013

Aventura – Lapa do Angélica



Veja também o outro posts da série “Aventura”: "Um zumbi na Trilha do Indaiá (Salto do Itiquira)" e “As cavernas do PETER



O Parque Estadual de Terra Ronca faz parte da região geológica cárstica (terreno formado pela corrosão de rochas calcárias, caracterizado por leitos subterrâneos, cavernas, dolinas, grutas etc.) denominada Grupo Bambuí, que engloba os estados de Minas Gerais, Bahia, Goiás e Tocantins. Boa parte do parque fica nas fraldas da Serra Geral de Goiás, maciço que separa o estado de Goiás da Bahia.
Terra Ronca faz parte dessa imensa mancha cinza entre Minas e Goiás
A primeira caverna do PETER que visitamos foi a Lapa do Angélica! Não, não escrevi errado, não! Se chama Lapa DO Angélica, uma vez que se refere ao Rio Angélica, que passa por dentro da caverna.

Bem perto da caverna víamos morros com amontoados de blocos rochosos calcários nas cores cinza-chumbo. Recortadas por milhões de anos pela ação do vento e da água, essas rochas formam blocos intrigantes e imponentes.  
Boca de entrada da Lapa do Angélica
O que não contávamos foi com a presença de uma enorme cobra caninana que, placidamente, cruzou a trilha bem na frente da Mary. A caninana não é venenosa, mas é uma cobra, o que é mais que suficiente para abalar as pernas da Mary. Pronto, o dia dela já tinha ido pro espaço! A Mary não tem medo de cobra. Tem PAVOR! E um pavor tão insano que mesmo minhoca dá medo nela!
Entrando na caverna
Mas voltemos para a Lapa do Angélica que é pra lá de linda, repleta de formações calcáreas. Com 14,1km de galerias (e não de extensão como muitos dizem), Angélica é a quarta maior gruta do país. A maior caverna brasileira igualmente se encontra no PETER. É a de São Mateus, com 21km de galerias!
Salão das cortinas
Localizada em local de fácil acesso e devido à facilidade do passeio no interior, talvez seja a caverna mais popular da região. A boca de entrada é lindíssima, principalmente se observada na contraluz. Logo na entrada há um grande salão de areia que forma uma praia, circundada pelo calmo rio Angélica, que logo desaparece na escuridão.

Entre suas principais atrações está o espetacular Salão dos Espelhos. É um ponto baixo da caverna onde o rio ressurge formando um calmo lago. A luz das lanternas refletidas na água age como belíssimos espelhos, multiplicando as diversas formações calcárias.
Salão dos Espelhos
No Salão das Fontes, também conhecido como Salão dos Canudos, o teto está coberto de tubos cilíndricos dos mais diversos tamanhos.
Salão das Fontes também conhecido como Salão dos Canudos
Terminamos o nosso passeio no grande e belíssimo Salão das Cortinas, ricamente decorado por estalactites e estalagmites.
Salão das Corinas
Depois de muitas fotos e parada para um revigorante lanche, apagamos a luz de todas as lanternas e fomos brindados com um show de luzes, onde diversos espeleotemas eram iluminados por nossos guias.
Salão das Cortinas
Para finalizar, fomos convidados a fazer o mais completo silêncio para, na escuridão total, termos um momento de meditação e ouvirmos os “sons da caverna”.
Salão das Cortinas
Silêncio completo! Ouvia-se o calmo gotejar vindo do teto quando... PUM!

Um sonoro, estridente e incógnito PUM ecoa no ar. Para nossa sorte, o dito PUM foi igualmente inodoro!

A risadaria que se seguiu acabou, por completo, com qualquer clima para uma meditação!
Auto retrato - adoro essa foto!!!!


sexta-feira, 19 de abril de 2013

Na Estrada - Motoristas e Navegadores I



Veja também os outros posts da série “Na estrada”: “Sinais de Trânsito” e “Controle de velocidade”.

Bons tempos os atuais onde podemos usar o GPS em nossas viagens. Quando comprei o meu Garmin, ele veio também com os mapas das estradas dos EUA, Europa e Mercosul. E funcionou maravilhosamente tanto nos “Steites”, como na nossa viagem a Portugal e Espanha. Funcionou tão bem que acabou sendo elevada à categoria de companheira de viagem e ganhando um nome: Rachel!

Só na nossa viagem ao Chile é que ela rateou e cometeu um montão de erros. Também, se o mapa não é preciso, a Rachel não consegue fazer milagres.
Rachel - a simpática porquinha de bronze do Pikes Place Market, de Seattle, que deu nome ao nosso GPS
Mas quem tem um pouco mais de quilometragem lembra bem do tempo do mapa. Aquilo sim era dureza!!

Para quem gosta de esporte motor, como eu, ver uma prova do Campeonato Mundial de Rali (WRC) é algo muito mais emocionante que as sonolentas procissões das corridas da Fórmula 1.
Não, não é Photoshop!!!
Imagine um carro de rua que pode atingir 290 km/h e que necessita de apenas quatro segundos para sair da imobilidade e atingir 100 km/h. Agora coloque esse carro fazendo manobras incríveis em alta velocidade em estreitas estradas de terra, muitas vezes cobertas de gelo.

Algo inimaginável para meros mortais como nós!!! Clique aqui e veja um clipe de como é essa loucura!
A mais de 200km/h numa estrada congelada!
Um piloto de rali de velocidade tem que ter 110% de concentração na pilotagem e não pode nem sequer pensar se a próxima curva é para direita ou para esquerda! A manobra que ele tem que fazer é cantada pelo seu anjo da guarda, o navegador, que fica o tempo todo lendo os detalhes do percurso a ser percorrido. Qualquer erro do piloto induzirá a erros do navegador e vice-versa.

O “casamento” entre piloto e navegador tem que ser perfeito e a confiança mútua mais que absoluta.
Navegador e piloto, um casamento perfeito
Guardadas as devidas proporções, quando se aluga um carro no exterior, sem GPS, existe sempre um piloto e um navegador. Não há santo que consiga fazer as duas tarefas simultaneamente, pois não dá para dirigir e olhar no mapa ao mesmo tempo. É como querer assobiar e comer farofa! Simplesmente impossível!

Assim, nada melhor que dividir, entre marido e mulher, essas duas tarefas para que a viagem seja mais tranquila, mais rápida e menos estressante!

Pode até ser mais rápida, mas daí a ser mais tranquila e menos estressante... Isso é apenas uma figura de retórica, porque também pode ser a forma mais rápida de se acabar com um casamento estável e de longa data.
Ler um mapa não é para qualquer um!!!
Tente colocar um marido de pavio curto no volante e sua esposa, que nunca usou um mapa rodoviário na vida, mas que também tem personalidade forte, juntos em uma estrada do interior de qualquer país da Europa e veja o resultado. Antes do final do primeiro dia de viagem ambos já estarão se estapeando a cada quilômetro rodado.
Briga no carro - duvido que não tenha passado por isso!!!
Quem nunca passou por isso que atire a primeira pedra! 

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Angola – Os bêbados que se danem!



Veja também os demais posts da série “Angola” – "A água do Bengo", "Laços históricos que desconhecemos", "Os Palancas Negras" e "A Feira de Roque Santeiro"


Se Angola é violenta? É óbvio que um branquelo andando solto é sempre um alvo potencial, principalmente em uma cidade onde o desemprego é alto. Isso vale para Luanda, como em qualquer metrópole brasileira. Turista é sinônimo de panaca e de grana fácil. Ou seja, todo cuidado é pouco. Seja por lá, como por aqui.
Luanda
O curioso é que a sensação de que o Brasil é um país bem mais violento e perigoso que Angola está presente na mente de muitos angolanos, apesar de terem vivido os problemas da guerrilha. O responsável? Um programinha policial chamado Cidade Alerta. Aquele onde você suja a mão de sangue toda a vez que resolve mudar de canal da TV! É tanta bagaceira sendo mostrada na telinha que o embaixador do Brasil em Angola me disse que pediu para que o programa fosse retirado do ar, nas transmissões internacionais, pois os angolanos estavam com medo de vir ao nosso país! Imagine só, moravam em um país saindo de uma guerra civil e tinham medo da violência no Brasil! É mole?!
Cidade Alerta - Cuidado pra não sujar a mão de sangue ao trocar de canal!!
Como não apenas sobrevivi incólume à minha primeira viagem a Angola, mas gostei muito da experiência, a indicação de minha segunda viagem a Angola foi recebida com alegria. Seguro de vida? Nem pensar! Um ano depois, encontrei o país ainda sob a ameaça da guerrilha, agora fraca e acuada. Mas a esperança de um futuro melhor estava patente em todos os diálogos que mantive. Os progressos, apesar de ainda pequenos, eram visíveis.
Luanda, como era de ser esperar, também tem vendedor de sinal!
Em minha terceira viagem, em 2003, encontrei uma Angola em paz e Luanda havia virado um canteiro de obras. A morte de Jonas Savimbi, líder da UNITA, trouxe a tão esperada paz para o povo angolano. E todo o dinheiro que antes era canalizado para a guerra podia agora ser aplicado nas numerosas obras necessárias para a reconstrução do país.
Mulheres da tribo Namibe
Encontrei também uma coisa inusitada. Ao final de um cansativo dia de palestras, fomos tomar um chopinho na Ilha de Luanda, o point dos barzinhos e restaurantes. A “ilha” está hoje ligada ao continente e não passa de uma fina restinga. De um lado a Baía de Luanda. Do outro, praias e o Oceano Atlântico. No meio uma estrada de mão dupla com uma infinidade de bares e restaurantes dos dois lados.
Por de sol sobre a Baía de Luanda
A caminho do nosso restaurante, percebi que a cada poste de iluminação que passava, tinha logo atrás um enorme bloco de concreto. Um poste, seguido por um bloco de concreto. Outro poste e outro bloco... O curioso é que esses blocos de concreto estavam sempre depois dos postes e nunca antes.

Intrigado com aquilo, perguntei a razão ao motorista e quase caí de costas com a singela explicação. Os blocos estavam ali para proteger os postes das batidas dos motoristas que voltavam embriagados depois de uma noitada nos bares. Uma vez que eles sempre iam sóbrios, não havia necessidade de protegê-los no sentido da ida, mas na volta...
Tava duvidando?! Taí o bloco "protetor anti-bêbado" de poste!!!
Como estava ficando caro para o governo local trocar os postes batidos, a solução foi protegê-los com blocos de concreto.

– E os motoristas bêbados?

– Bem, eles que se danem!!

Pano rápido, por favor!!!


Copyright de fotos: Edu Moreira