Veja também
os outros posts da série “Mergulhando pelo mundo”: "Afinal, o que é mergulhar?", “SS Sapona e Castor”, “Rosalinda e Pinguino” e "Captain Slate"
Nem
sempre o afundamento de um barco se dá por acidente. Muitas vezes eles ocorrem
de forma planejada.
Um
naufrágio criminoso, por acaso? Não, completamente legal, planejado e
autorizado.
A
essa altura você estaria se perguntando por quê raios alguém resolveria afundar
um navio? Muito simples, para transformá-lo em um ponto de visitação turística.
Os
barcos são comprados, limpos (para evitar que possam agredir o meio ambiente),
preparados (para evitar que determinadas peças possam oferecer perigo ao
mergulhador) e afundados com toda a pompa e circunstância em locais predeterminados,
onde passarão a servir ao turismo local. Essa prática, que pode ser considerada
uma aberração aos olhos xiitamente vesgos dos eco-chatos, é muito comum lá
fora.
O cargueiro Eagle |
Esse naufrágio, após alguns anos, se transforma em um recife artificial. Ao
casco do navio aos poucos vão se agregando cracas, corais, esponjas, algas...
aparecem peixinhos que deles se alimentam... e peixes maiores que comem os
peixinhos... e tartarugas, arraias, moreias, barracudas, tubarões... e os
mergulhadores, que extasiados com a beleza do mergulho, enchem a burra do
comércio local, que fica feliz da vida.
Se todo naufrágio é um universo cheio de vida, por que não podemos dar uma ajudazinha à natureza?!
Se todo naufrágio é um universo cheio de vida, por que não podemos dar uma ajudazinha à natureza?!
Parte superior do casario do Eagle |
Visitei
em 1990, em Lower Matecumbe Key, Flórida, um desses naufrágios provocados: o cargueiro
Eagle. Com mais de 90 metros de comprimento, o Eagle pegou fogo e foi declarado
como perda total. Um grupo de comerciantes, em conjunto com a Secretaria de
Turismo do Condado de Monroe, investiu US$10,000 na compra, limpeza e
afundamento do barco. Tendo mergulhado no Eagle menos de 5 anos depois de seu
afundamento, ainda não havia aquela profusão de vida que acostumamos ver nos
naufrágios mais antigos. Por outro lado sua visão é majestosa, é imponente! Foi
um daqueles mergulhos que nunca me esquecerei!
Naufrágio do Eagle, na Flórida |
Mas
o navio naufragado mais famoso que já visitei não foi através de mergulho, mas
no seco e acima d’água. Foi o naufrágio do histórico USS Arizona, no porto de
Pearl Harbor, no Havaí, hoje transformado em um monumento à memória daquele dia
de dezembro de 1941 em que o Japão atacou os Estados Unidos, empurrando os
americanos para dentro da Segunda Guerra Mundial.
Vista aérea do Memorial, com o USS Arizona por debaixo |
A
destruição do USS Arizona foi provocada por uma única bomba, que penetrou seu
convés, indo explodir no paiol de munições. A destruição foi cataclísmica e
nela morreram 1177 dos 1400 praças e oficiais que estavam a bordo. Sobre os
seus destroços foi construído um monumento em memória às vitimas.
Desnecessário
dizer que a visita ao USS Arizona é uma experiência repleta de emoção. Ver as
lágrimas dos veteranos americanos e japoneses ao visitar o monumento marca
profundamente o mais insensível dos homens e nos faz pensar na insanidade das
muitas vidas perdidas nas guerras que as nações insistem em provocar.
O USS Arizona em chamas durante o ataque a Pearl Harbor |
Mas
se a Marinha Americana foi à lona em Pearl Harbor, a batalha de Truk Lagoon levou a
Marinha Japonesa ao nocaute em 17 de fevereiro de 1944, exatos nove anos antes
do meu nascimento.
Restos de um caça japonês Zero, em Truk Lagoon |
Truk
Lagoon fica na Micronésia e, devido a profundidade de suas águas e a segurança
fornecida pelo recife que circunda o atol, era um porto natural, transformado
na mais importante base naval japonesa durante a Segunda Guerra Mundial. Na
batalha foram afundados mais de 60 navios e 270 aviões. Até hoje alguns desses
naufrágios ainda não foram descobertos.
Seja
como for, é um dos meus sonhos dourados de mergulho mundial, que espero um dia
ainda realizar.
Tanque em um dos muitos navios japoneses afundados |
Outra
área repleta de naufrágios, que ainda espero mergulhar, fica aqui no Brasil: o
Parcel Manoel Luís, no litoral do Maranhão, ainda hoje temido pelas suas fortes
correntezas que jogam os navios contra os recifes de coral.
Outro Zero, caça japonês, afundado |
Foi
nesse parcel que afundou, em 1862, o navio Ville de Boulogne. Nesse naufrágio
todos sobreviveram, exceto o poeta Gonçalves Dias, famoso pelo seu poema
“Canção do Exílio”.
Mapa de parte dos naufrágios no Parcel Manoel Luís, no Maranhão |
Nele o poeta fala “Minha terra tem palmeiras, onde canta o sabiá
... Não permita Deus que eu morra, sem que eu volte para lá.”
Pois é, não deu, né!!
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