Veja também os outros posts da série "Preconceito": "Somos todos preconceituosos". "C'est porc monsieur!", "Aceitação e tolerância não são sinônimos", "Só falta quererem ser iguais!" e "La Diva Argentina"
Preconceitos
e estereótipos andam sempre de mãos dadas.
Nossa propaganda oficial sobre Brasil tanto exaltou o carnaval (muitas vezes apenas pelo seu lado erótico) e a beleza das nossas mulheres (mostrando mulheres seminuas em nossas praias) que mulher brasileira é sinônimo de mulher “fácil” no exterior.
Nossa propaganda oficial sobre Brasil tanto exaltou o carnaval (muitas vezes apenas pelo seu lado erótico) e a beleza das nossas mulheres (mostrando mulheres seminuas em nossas praias) que mulher brasileira é sinônimo de mulher “fácil” no exterior.
Cartão postal vendido em Fortaleza |
Nos
dois anos que vivi em Miami, todas as vezes que me identificava como
brasileiro, quase sempre um dos primeiros comentários que meu interlocutor
fazia era “beautiful women” (mulheres bonitas). Mais que isso, nas propagandas
do GP do Brasil de F1 de 2015, a rede NBC Sports mostrava uma mulata sambando e
uma mulher num biquíni, daqueles que se embrulha na própria etiqueta de tão
pequeno, saindo do mar. Tudo a ver com automobilismo, concorda?! Confesso que
isso me incomoda e não é pouco!
Deprimente outdoor da boate Bahamas, em São Paulo |
E
é essa triste imagem que alimenta o motor que move todo o turismo sexual em
Fortaleza, Recife, Salvador e Rio. Tal como Tailândia, Filipinas, Cuba,
República Dominicana e outros países latino-americanos, do Caribe e do Sudoeste
Asiático, o Brasil é destino preferencial do chamado “turismo sexual”.
Deprimente!
Outdoor de motel em Salvador, por ocasião da Copa de 2014 |
Assim
como você viaja para desfrutar dos prazeres da culinária italiana ou de
degustar vinhos em um passeio por Bordeaux, o turismo sexual explora estereótipos
como “destinos exóticos”, “cultura diferente”, “permissividade sexual dos
trópicos” e “máquinas de fazer sexo” que, tal como a gastronomia, podem ser
livremente consumidos pelo turista estrangeiro.
Cartaz de propaganda da Embratur |
Não sei se a coisa melhorou mas, na minha época, quem
viajava pelo Brasil, à serviço do Governo Federal, sabia muito bem que as diárias pagas eram tão precárias que, na maioria das vezes, o pobre do servidor tinha que
fazer a opção entre comer e dormir... porque se quisesse as duas coisas
provavelmente ia tirar dinheiro do bolso. A opção era rachar a diária
com algum companheiro de viagem.
Capa de revista britânica de turismo |
Mas
se, por acaso, tivesse que viajar sozinho aí a coisa pegava e o hotel em que você
se hospedava acaba sendo aquele que perdeu algumas estrelas e as que restaram
com toda certeza estão opacas e perderam o seu brilho a algumas décadas.
Propaganda de turismo sexual no Brasil feita no exterior |
Foi
o que aconteceu comigo em uma viagem à Recife. Fiquei em uma área nobre, na
beira da praia, em Boa
Viagem. Do hotel, não se podia dizer o mesmo. Decadente,
havia sido tomado por alemães de terceira categoria que, usando a diferença
entre um Marco alemão forte e um Cruzado esquálido, invadiam o Nordeste em
busca dos prazeres fáceis do turismo sexual.
Artigo em site no exterior |
Já
amanheciam com uma garrafa de cerveja na mão e sempre com sua “companheira” a
tira-colo. Essas por sua vez, viam em cada gringo a chance de tirar a sorte
grande e sair da vida miserável que tinham aqui no Brasil: casar e ir morar na
Alemanha era o sonho de 11 em cada 10 daquelas prostitutas.
Camisas produzidas pela Adidas para a Copa de 2014 |
Como
a concorrência era grande e nem sempre leal, elas se desdobravam em mimos para
os seus parceiros, se submetendo a situações muitas vezes vexatórias. Com um
detalhe: todas falavam alemão. Pelo menos o alemão básico que dava para
entender e se comunicar com o seu “proprietário”. Acredito que o vocabulário
não deveria ser lá muito extenso... até mesmo porque em se tratando de sexo,
quanto menos papo, melhor, não é mesmo?!
Mas
todo sonho pode virar pesadelo num piscar de olhos.
Outro cartão postal de Fortaleza |
Tive
um chefe que foi diplomata em Berlim e, devido às suas funções, tinha que lidar
com o outro lado da moeda dessas brasileiras que tiraram a “sorte grande”, se
casaram e foram morar na Alemanha.
Quando
procuravam a ajuda da Embaixada Brasileira era porque a situação pessoal havia
superado, em muito, o limite do suportável.
Muitas
delas viviam em estado de quase escravidão. O casamento era, para o alemão, apenas
uma forma barata de ter uma empregada, além de sexo fácil, farto e gratuito.
Foto publicada no jornal americano Guardian Liberty Voice de Nevada sobre turismo sexual no Brasil |
E
ai da brasileira se ousasse reclamar! O couro comia e a insatisfação era calada
com a agressão física. Reclamar para a polícia alemã era pura tolice. Muitas
vezes nem passaporte tinham, pois tinham sido tomados pelos seus feitores.
Dinheiro para a passagem de volta? Tolinho! Você acha mesmo que escravidão é
remunerada.
Enquanto isso, em Recife... |
Como
tudo na vida, não se pode generalizar. Nem todo casamento de alemão com
prostituta brasileira dá errado, assim como a ilusão de que a vida de casada
seria um paraíso, que na maioria das vezes esvaecia mais fácil que fumaça, algumas
vezes esse sonho acabava se tornando realidade.
Cenas de outra capital nordestina |
Mas,
assim como um em cada 100 milhões acaba ganhando na Mega-Sena, sempre tem uma
Cinderela que conseguia achar seu príncipe. Mas não se iluda, pode beijar à
vontade que a maioria dos sapos vai continuar sendo sapo.
É
claro que estou citando casos extremos que esse diplomata comentou comigo. Mas é
natural que, onde o “amor” é apenas de conveniência, as diferenças sociais,
culturais, financeiras, assim como as expectativas radicalmente opostas de cada
“parceiro”, acabem criando um fosso muitas vezes intransponível.
É, meus caros, infelizmente esse é o retrato do Brasil lá fora!!! |
E,
segundo esse diplomata, não foram poucas as vezes onde a situação da brasileira
era realmente desesperadora.