terça-feira, 11 de junho de 2013

Preconceito - C'est porc monsieur!


Veja também o outro post da série “Preconceito”: "Somos todos preconceituosos"


Tá legal, reconheço que tenho cara de terrorista do Hesbollah e até faço piada disso. Mas a verdade é que acabo sentindo isso na própria pele e de diversas formas, principalmente no exterior.

Às vezes nem me perguntam a origem e já me tratam como se eu fosse árabe.

O "famoso" Sheikh Edubdullah

Certa vez eu estava na fila de um restaurante de uma organização internacional em Genebra. No cardápio, um delicioso prato cuja carne era um daqueles lindos e saborosos salsichões alemães. Foi esse o meu pedido. O atendente nem deu pelota para o que eu tinha dito e replicou:

– C'est porc monsieur! (É porco, senhor!)

A ficha não caiu e pedi de novo o belo salsichão. Mais uma vez ouvi, desta vez de forma bem enfática:

– C'est porc monsieur!
Um delicioso salsichão alemão - árabes e judeus não sabem o que estão perdendo!
Foi aí que “captei a mensagem”! O atendente estava me avisando que a carne era de porco porque ele pensava que eu era árabe... e, por tabela, muçulmano! E, como você sabe, para muçulmano porco é carne impura. Assim como para os judeus, comer carne de porco é um ato religiosamente proibido.

A mesma coisa se repetiu anos depois em um McDonald’s do Aeroporto de Frankfurt, quando pedi um sanduíche de lombo de porco. Só que dessa vez, assim que a atendente me informou que o sanduíche era de carne de porco, lhe avisei que não era muçulmano.
O letreiro "nem um pouco" preconceituoso -
"O lugar mais seguro da terra. Nenhum muçulmano aqui dentro!"
Fico imaginando o escândalo que um muçulmano ou um judeu podem fazer se comerem carne de porco sem terem sido avisados pelo atendente.

Na minha última viagem à Europa, estava numa fila quando o senhor atrás de mim falou algo como: مع كل هذا تبدو مثل العربية ، الغريب أبدا لديه مشاكل مع إدارة الهجرة الأمريكية

Fiz uma cara de heimmm e ele repetiu a mesma coisa. Foi aí que entendi o que estava acontecendo e disse a ele que não era árabe. Surpreso, ele me confessou que tinha certeza de que eu era libanês!
Maomé lamentando: "-Outros profetas têm seguidores com senso de humor!..."
Com toda essa cara de árabe, curiosamente nunca tive problemas com a imigração americana. Mas não foram poucas as vezes onde as autoridades européias me dispensaram um tratamento “especial”. Mais perguntas que o padrão, revista visual de minha bagagem, mais tempo de verificação nos registros de computador, antes de receber o carimbo de entrada. Apesar de nada ser ostensivo ou agressivo, é nítido o cuidado redobrado que recebo. (veja o post "Je ne suis pas arabe!")
Árabes em trajes típicos

Se apenas parecer árabe já lhe torna, aos olhos preconceituosos de uns e outros, um terrorista potencial, imagine então um muçulmano com vasta barba, paramentado com sua tradicional túnica e gorro de tricô na cabeça entrando na fila do check-in de um vôo internacional. Seria divertido, se não fosse lamentável, observar os olhares e o ti-ti-ti, certamente maldosos, dos ocidentais.

Cartoon francês sobre a discriminação que é provocada pelo véu


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