sexta-feira, 20 de maio de 2011

Conclusões inconclusivas II - Chile 5/5/2011

Ir ao Chile deu uma baita tristeza do nosso Brasil, eternamente empacado e com os nossos políticos e grandes empresários se locupletando, desperdiçando o nosso tão sofrido e suado dinheiro que contribuímos em impostos.

Lá no Chile eles têm terremotos, vulcões, tsunamis, desertos, montanhas escarpadas, geleiras... nós moramos no paraíso. Lá eles têm um PIB 162 bilhões de dólares... o nosso PIB ultrapassa os 2 trilhões de dólares. Lá a renda per capita é de cerca de US$ 10000... a nossa é de mais de US$ 11000. A economia deles é muito, mas MUITO menos pujante que a nossa, se baseando em cobre, frutas, salmão e outros pescados, vinho ... e turismo. Só?!!! É, é só isso!!


Mas se somos tão melhores em tudo isso, por que então que 80% das crianças chilenas estudam em escola pública e nosso sistema público de ensino é essa lástima que todos conhecemos? Por que será que não vimos um ÚNICO buraco nas estradas chilenas, mesmo nas secundárias? Por que o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) deles é o 45º do mundo (a duas posições de entrar na categoria “muito alto” e estar entre os países mais desenvolvidos do mundo) e o nosso está na posição 75 (a 12 posições para cair para a categoria “média” e fazer companhia a países como Suriname, Bolívia e Paraguai, só para ficar entre os países da América do Sul)?

Sinceramente não sei responder e se alguém aí tiver uma resposta, por favor me mande. Mas confesso que tudo isso me dá uma profunda tristeza!

Saímos do Brasil debaixo de um caos completo no aeroporto de Guarulhos, o que me dá a absoluta certeza de que passaremos vergonha durante a Copa de 2014. A fila para controle de bagagem e controle de passaportes vazava (e MUITO) para o lado de fora. Na imigração, os agentes da Polícia Federal gritavam “próximo” e você tinha que adivinhar qual deles tinha gritado. Levamos cerca de uma hora e meia até conseguirmos chegar ao portão de embarque.

No Chile, encontramos um aeroporto amplo, limpo e moderno e, na imigração, o esperado, civilizado, barato e nem um pouco tecnologicamente complexo indicador luminoso de qual guichê deveríamos nos dirigir. Alguém gritando “próximo”? Nem pensar!! Apesar de termos chegado depois da meia noite, aguardavam mais do dobro de agentes de imigração do que encontramos na muvuca de Guarulhos.


Impressionou a nós a gentileza e educação do chileno. Buzina no tráfego? Não ouvimos uma ÚNICA sequer, apesar deles ignorarem solenemente o pisca-pisca onde você indica a mudança de pista.

Nas esquinas das ruas onde não há semáforo para pedestres, eles simplesmente atravessam sem se preocupar se vem carro ou não. É OBRIGAÇÃO do motorista estar atento e parar para o pedestre passar! E ninguém se estressa!

Nas principais vias existem corredores exclusivos para ônibus e táxis. Sabe quantos motoristas vimos dando o tradicional “jeitinho” e usando a pista proibida? Exato, NENHUMZINHO!!!

E mesmo na hora do rush, não vimos nenhum congestionamento daqueles que fazem a felicidade do fígado dos motoristas das nossas grandes metrópoles. Ah, e NINGUÉM bloqueia os cruzamentos, ajudando o tráfego a fluir mais livremente.

Nas autoestradas é obrigatório TODOS os veículos trafegarem com luz acesa. Esquecemos de acender uma vez e fomos parados no primeiro posto de carabineros (os policiais chilenos), onde ele (sempre educado, gentil e solícito) pediu que acendêssemos as luzes do carro para nossa segurança e a dos demais motoristas. Nos informou ainda que os acidentes caíram em 80% depois que a lei foi adotada. O percentual pode até ser discutido, mas a verdade é que não vimos um único acidente em estrada durante todo o tempo que lá estivemos. E olha que rodamos mais de 4000km por lá. Ah, ia me esquecendo! Aqui no Brasil também é obrigatório trafegar com as luzes acesas... mas quem se importa, não é mesmo?!!

Outro detalhe interessante: ao parar no acostamento, TODOS usam o pisca-alerta!!!


O Chile não é nenhum país especial e nem pode ser considerado país de primeiro mundo. Longe disso! Mas a impressão que tenho é a de que eles têm a consciência de que os recursos disponíveis são escassos e que devem ser bem utilizados. Afinal, a qualquer momento o país pode sofrer as consequências de um forte terremoto, como o de 2010, onde as obras de reconstrução podem ser vistas em várias cidades.

Por aqui, “sabemos” muito bem para onde vai o nosso suado dinheirinho... mas tudo bem, se faltar basta aumentar a carga tributária que ninguém irá para as ruas reclamar. E por falar em carga tributária, em 2007 a carga tributária do Chile representava 21% do PIB... enquanto a nossa ultrapassava os 36% naquele ano, superando os 40% no ano passado!

Corrupção? Duvido que esse câncer não exista por lá. Mas em duas semanas não vimos nenhum escândalo estampado nos jornais e televisão. Pelo menos a corrupção parece não ter chegado ao estágio de metástase que temos por aqui. Por aqui um certo ministro multiplica seu patrimônio por vinte em quatro anos e ninguém do governo, nem da sociedade e, obviamente, ninguém daquele partido que um dia se apresentou como o arquétipo da lisura e correição expressa qualquer indignação. Deprimente!

Bem, o jeito é aplaudir os chilenos e tentar ser uma gota no oceano que não aceita o status-quo e busca transformações aqui no Brasil... mesmo sabendo que não vai dar em nada!

Foi com esses pensamentos que desembarcamos no Brasil e nos dirigimos à Polícia Federal para a imigração... para ouvir: “PRÓXIMO”!!!

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