segunda-feira, 28 de julho de 2014

Peru - Pitadas de Cusco


Se você está preocupado com a altitude de Machu Picchu, esqueça! Deveria estar muito mais preocupado com a altitude de Cusco. Afinal, caminhar a 3400m de altitude não é uma atividade das mais prazenteiras.
Oeste da América do Sul - Cusco, Peru
Por outro lado, é uma cidade muito bonita, culturalmente rica, cheia de história e, para quem gosta de fotografia, repleta de temas para serem fotografados. Não é por acaso que a UNESCO declarou a cidade como Patrimônio Histórico da Humanidade.
Milho nativo
Prepare-se para encontrar uma cidade repleta de turistas das mais diversas nacionalidades, Com cerca de 400 mil habitantes, Cusco recebe cerca de 12 milhões de turistas ao ano!

E com tanto turista perambulando por diversos locais históricos, fica aqui a pergunta: vale a pena ter um guia?!  Quem me conhece, sabe que normalmente eu sou o meu próprio guia e que odeio esses guias que vendem seus serviços na porta de um local histórico.
Indígena quéchua vendendo flores
Pois estava entrando nas ruínas incas de Sacsayhuaman quando uma senhora delicadamente se apresentou como guia. Com muita gentileza recusei e ela me deu um argumento que me derrubou: "Senhor, sem um guia Sacsayhuaman não passará de um amontoado de muros de pedras"!
Plaza de Armas - coração histórico de Cusco
Contratei os serviços da Sra. María Lizárraga (magelo_58@hotmail.com; celular 984348530) , uma professora pra lá de simpática que deu um banho de conhecimento. O mais gozado é que, de vez em quando, ela fazia um ligeiro teste de conhecimentos para ver se tínhamos absorvido o que ela tinha falado! Confesso que valeu cada centavo que paguei e recomendo os serviços dela a cada um que vá a Cusco!!!!
Criança quéchua
Com guia ou sem guia, saiba que o nome da cidade se origina da língua quéchua, Qusqu. Aliás, o nome oficial é Cusco, com "S", mas muita gente ainda usa Cuzco, com "Z". Sinceramente, não faz a menor diferença!

Mais que isso, se você é homofóbico, vai se arrepiar ao ver tantas bandeiras gay dependuradas... inclusive nos prédios públicos!
A whipala, bandeira de Cusco
Epa epa! Acho que tem algo meio estranho por aqui! É claro que tem e aquela bandeira não é a bandeira gay, com o seu tradicional arco-íris! Mas que é bastante parecida, isso é!!

Essa bandeira se chama wiphala, tem sua origem na cultura inca e foi adotada como bandeira oficial da cidade de Cusco!
Vendedora quéchua
Uma coisa me chamou a atenção no Peru, assim como na Bolívia: a ausência de carros importados fabricados no Brasil. Fui, enquanto trabalhava na Anatel, várias vezes ao Peru e uma vez à Bolívia. Naquela época, encontrar carros brasileiros era muito comum. Pois eles desapareceram! Foram substituídos por um mar de veículos japoneses usados importados! Mesmo usados, eles têm mais confiabilidade e qualidade que os brasileiros... além de serem MUITO mais baratos.
Artesanato local
E por falar em carro, quer fazer um peruano feliz?! Dê a ele, de presente, uma buzina de carro. Não há nada no mundo que um peruano mais adore que sentar a mão na buzina! E na hora que um cruzamento dá um nó de rosca, a poluição sonora é insuperável!
Típica sacada colonial
Dica final: tome MUITA água e tenha sempre um potinho de vaselina por perto. Antes de você pensar em besteira, lembro que a secura da altitude vai rachar os seus lábios e deixar seu nariz ressecado. No fim da viagem você me agradecerá!

terça-feira, 22 de julho de 2014

Oeste dos EUA 2014 – Pelas frestas do Arizona

Veja também os demais posts da série “Oeste dos EUA- 2014”: Dia 0, “Começou torto!”, "Rota 66", "Navajo Nation" e "Um lago ancestral"

O deserto de Great Basin é o maior dos EUA. E em seu limite sul existe um lugar incrível, Page, no Arizona.
Oeste dos EUA - Page, Arizona
Se Page é árida em sua superfície, sua beleza está escondida nos “slot canyons” ou cânions de fresta. Ao contrário do Grand Canyon que é aberto em V, os cânions de fresta têm um formato de V invertido. Uma fresta no topo e mais largos embaixo.
Lower Antelope Canyon - fresta na superfície e cânion por debaixo
Por serem formados de rocha de arenito e estarem em áreas de enxurradas relâmpago, como a mostrada neste vídeo, a erosão da água vai cavando rocha abaixo, criando formações lindíssimas!
A beleza do Upper Antelope Canyon é indescritível!
O mais famoso desses cânions de fresta é o Upper Antelope Canyon. Quando estive lá em 2010 já estava super visitado. Agora, para os fotógrafos, está quase impossível de se conseguir uma foto decente no meio de mais de uma centena de turistas. A coisa tá mais parecendo metrô em hora do rush!!!
A belíssima e famosa imagem do raio de sol
Mas não fique triste, pois existem outros “slot canyons” incríveis em Page e visitei quatro desses cânions.

Não deixe de visitar o Upper Antelope, mas fuja da multidão. Vale a pena tentar essas outras opções. Não sairá decepcionado!
Rattlesnake Canyon - vale a pena ser visitado!
Se você é fotógrafo, ou gosta de fotografia, busque um tour específico para fotografia. Você paga um pouco mais caro, mas terá um guia que lhe orientará quanto aos melhores ângulos e ainda irá retirar o populacho de frente de sua foto. Mais que isso, dependendo da empresa e do dia, poderá ter um guia exclusivo, um guia só para você!
Bela formação rochosa no Rattlesnake Canyon
Em 2010 fiz o tour com o Antelope Canyon Tours. Fiquei muito satisfeito. Desta vez contratei os serviços para fotografar quatro cânions, pela Adventurous Antelope Canyon Photo Tours (AACPT) e foi MUITO melhor. Com eles fiz o Upper Antelope ao meio dia (para a famosa foto do raio de luz) e no fim da tarde. Com um guia só para mim, fiz também o Mountain Sheep Canyon e o Rattlesnake Canyon. O Mountain Sheep não é lá essas coisas, mas o Rattlesnake tem formações lindíssimas.
Waterholes Canyon
Outro cânion maravilhoso é o Waterholes (N 36.835625º W111.502977º). Esse é o único que você pode fazer sem guia. Mas se meter em um desses buracos sem alguém perito por perto é dar MUITA chance para o azar. Contratei o Robert Mendez, (robert.jw.mendez@gmail.com) meu excelente guia shoshone (tribo indígena americana), da AACPT. Foi uma experiência maravilhosa! De quebra, fomos até o “The Fins” ("barbatanas" – N 36.834050º W 111.489561º) já na hora do por do sol. Simplesmente inesquecível!!!
The Fins, ao por do sol
Aproveite  que  está  na  região  e  dê  uma  passada  pelo  Horseshoe  Bend (N 36.876431º W111.502895º), um lugar onde o Rio Colorado faz uma curva em formato de ferradura. O local é impressionante pelo tamanho, com o rio passando 800m abaixo da pirambeira onde você está. Mas se quiser fotografar, venha com uma bela grande angular. Caso contrário não vai conseguir pegar toda a cena!
Horseshoe Bend, no Rio Colorado
Mas  a  grande  surpresa,  para  mim,  foi  fotografar  o  Lower  Antelope  Canyon (N 36.902523º W111.410212º). Acho que o Lower consegue ser tão ou mais bonito que o Upper, com a grande vantagem de ter muito menos gente. Fiz o tour fotográfico com a Lower Antelope Canyon Tours (lowerantelope.d.ellis@gmail.com 928-640-1761). Recomendo... e se puder pedir o Chris como guia, peça. É uma operadora pequena e eles buscam a satisfação total dos seus clientes. Saí de lá 300% satisfeito!!!
A beleza do Lower Antelope Canyon é fantástica!
Mas o Lower Antelope também guarda uma história trágica. Você se lembra do vídeo lá de cima? Pois em 1997, 12 turistas foram pegos dentro cânion por uma dessas enxurradas. Apenas um sobreviveu (veja aqui o seu relato). Depois disso, uma série de medidas de segurança foram tomadas. A mais importante delas é a de que nenhum turista pode entrar em um cânion se houver a possibilidade de tempestades na região. Afinal, cerca de seis a oito enxurradas, talvez não tão fortes como essas, acontecem todos os anos!
Lower Antelope Canyon - tão belo quanto o Upper, mas mais barato e com menos gente!

sábado, 12 de julho de 2014

Oeste dos EUA 2014 – Um lago ancestral

Veja também os demais posts da série “Oeste dos EUA- 2014”: Dia 0, “Começou torto!”, "Rota 66" e "Navajo Nation"

Boa parte do oeste americano faz parte de uma bacia hidrográfica cujas águas vão do nada a lugar nenhum!

Heim?!!! Cuméquié?!!!
Oeste dos EUA - Mono Lake, Califórnia
A Great Basin é formada por rios, temporários ou perenes cujas águas jamais chegam ao mar. Desembocam, quando muito, em lagos e “terminam” seus dias através da evaporação. Não é a toa que o Great Basin é igualmente, o maior deserto americano!

O Mono Lake, na Califórnia, é um desses lagos e recebe a água de rios e riachos do lado leste da Sierra Nevada. As águas que ali chegam não vão a lugar algum. Voltam ao ciclo através da evaporação.
Formações calcárias em Mono Lake
Formado a cerca de 760000 anos atrás e parte de um lago muito maior que cobria boa parte de Nevada e Utah. Esse antigo lago, por sua vez, foi formado por um oceano ancestral, cujas águas ficaram represadas. O lago salgado de Salt Lake City é irmão gêmeo do Mono Lake.

Devido a altíssima concentração de sal e bicarbonato de sódio, suas águas são duas vezes mais salgadas e cem vezes mais alcalinas que o mar! Ali você não afunda nem com muito lastro!!!
Mono Lake ao amanhecer
E o que acontece quando o homem resolve colocar o seu dedo em um ambiente de frágil equilíbrio? Dá caca, é óbvio!!!

Megápole de milhões de habitantes, Los Angeles precisa de água para os seus habitantes. E onde resolveu buscar? Nos rios que abastecem o Mono Lake.
As águas do Mono Lake são 2,5 vezes mais salgadas e 100 vezes mais alcalinas que as do mar
Só faltou combinar com o sol, que continua inclemente na sua faina de evaporar a água do lago. E com menos água entrando que a que evapora, o lago foi diminuindo de tamanho.

Desde 1941, quando esse processo de desvio iniciou, o Mono Lake já baixou em mais de 8 metros o nível de sua superfície, o que representa quase 70% do seu tamanho original. Felizmente foram tomadas medidas para estancar esse processo.
Um desastre ecológico que é um tesouro de imagens para os fotógrafos
Para nós, fotógrafos, essa tragédia ecológica foi um presente dos céus. Quando as águas baixaram, apareceram maravilhosas e estranhas formações calcárias que estavam submersas, semelhantes a estalagmites.

Fotografar as “tufas” do Mono Lake é dar asas à imaginação. É como fotografar a paisagem de outro planeta. E fica aqui uma dica: acorde bem cedo e vá aproveitar a luz do nascer do sol. A luz “quente” da alvorada faz uma parceria fantástica com o visual do Mono Lake em suas fotos.
Imagens maravilhosas que mais parecem as de um outro planeta
E não pense que estará sozinho. Outra dúzia e meia de fotógrafos estarão lá, com você, registrando seus clicks.

Ah, o Mané aqui, morto de cansaço da maratona desta viagem, ficou mais tempo que devia na cama e perdeu o melhor da festa. Mesmo assim acho que o resultado ficou lega!!!
As "tufas" calcárias de Mono Lake

sábado, 5 de julho de 2014

Oeste dos EUA 2014 – Navajo Nation

Veja também os demais posts da série “Oeste dos EUA- 2014”: Dia 0, “Começou torto!” e "Rota 66"

Todo o norte do Arizona e sul de Utah é uma vasta área de reserva indígena Navajo. E nessas áreas os Navajos se organizaram como nação, a Navajo Nation. Dentro da reserva, eles podem legislar, gerar infra-estrutura como estradas e escolas, criar parques indígenas, restringir o acesso de não navajos a certas áreas, exercer o poder de polícia, estabelecer taxas e multas, etc.
Mapa do Oeste dos EUA
Uma situação bem distinta da que temos no Brasil, onde o índio é tratado como idiota e de idiota não tem nada. Índio, ou “nativo americano” sendo politicamente correto (e chato), por aqui ta feliz de não ter uma FUNAI pra lhe torrar o saco!
Nascer do sol sobre a West Mitten, East Mitten e Merrick Bute
 Você certamente já viu imagens de Monument Valley. É um visual tão marcante que muitos filmes, desde os faroestes de John Ford, usam este cenário maravilhoso.

Monument Valley é um parque indígena. E para visitá-lo paga-se uma taxa aos Navajos. Nesse parque, diversas áreas são restritas apenas aos navajos. Circular por essas áreas restritas pode resultar em uma pesada multa ao infrator.
Visão do Artist's Point
Toda essa área, a mais de 160 milhões de anos atrás fazia parte de um oceano. Movimentos da crosta terrestre elevaram o fundo desse oceano a mais de 1500m de altitude. Milhões de anos de erosão pelo vento e chuva completaram o serviço.
Velho junípero
Meu dia em Monument Valley começou ainda no breu completo. Afinal de contas, o nascer do sol sobre a West Mitten é simplesmente inesquecível. O melhor lugar para uma foto do nascer do sol fica na estrada de terra logo abaixo do Visitor Center.
Nascer do sol no West Mitten
Mas não é apenas o nascer do sol que dá uma foto maravilhosa. É só circular pela estrada que circunda o vale que cenas incríveis irão aparecer no visor de sua  câmera.  Meus  preferidos   locais   são   North   Window  (N 36.957006° W 110.073033°     -     um     bom    para     por    de     sol),     Artist's     Point    (N 36.957015° W 110.059609°)   e   Yei Bi Chei  /  Totem Pole  (N 36.936561°  W 110.061689°).
Mapa do Monument Valley Tribal Park
Não deixe de fotografar também a famosa Mile Mark 13 na US163. Quem viu Forrest Gump vai se lembrar da visão de lá.
Monument Valley visto do Mile Mark 13
Ah, antes que eu me esqueça, tem mais uma coisa interessante sobre a região. A Nação Navajo é uma sociedade matriarcal. A mulher é o centro da família e é ela que tem como herança os bens, normalmente terra e gado. Ou seja, em um casamento, a mulher é que é o “bom partido”. O homem entra com uma mão na frente e outra atrás!!!
Visão da North Window