quarta-feira, 15 de junho de 2011

Certos furtos II - Barcelona

Veja também o post "Certos furtos I - Itália".

Em minhas férias de 2007, Barcelona se mostrou uma cidade bastante tensa e perigosa para o turista. Foram várias as situações em que presenciei o furto ou a tentativa de furto, além de ter sido alertado pelos moradores locais para as diversas variações usadas pelos ladrões.

Na praça em frente à Catedral da Sagrada Família, costumam agir jovens que lhe abordam com uma lista de assinaturas, solicitando doações. Elas chegam em grupos de duas, mostrando a lista de doações conseguidas para uma obra de caridade qualquer. Enquanto uma lhe explica o quanto a obra é carente e lhe suplica por ajuda, a outra passa a mão na sua carteira. Vi essa cena com um turista americano que foi abordado, mas felizmente percebeu a intenção do furto e reagiu antes que ele se consumasse.

Outro golpe que costumam usar é o do “turista perdido”, normalmente praticado por jovens acima de qualquer suspeita. Igualmente agem em grupo de dois ou três jovens que lhe abordam com um mapa pedindo informações. Mapa aberto na sua frente, um lhe faz as perguntas e o outro... bem, você já sabe!

Nesse mesmo dia, eu e minha esposa estávamos passeando pelo Passeig de Gracia, a rua mais charmosa de Barcelona, quando fomos abordados por duas belas jovens que nos pediram informações de mapa aberto. Turistas ou ladras? Sinceramente não sei! Não aguardei para ver, botei a mão no bolso, pedi desculpas e saí de fininho. Afinal, seguro morreu de velho e já estou devidamente traumatizado com situações como essa para dar bobeira.

Confesso que as duas eram dois pedaços de mal caminho e que qualquer marmanjo ia ficar ali babando, dando trela às duas. Se realmente fossem ladras, teriam tempo suficiente para deixar o cara só de cuecas.

Se você acha que dá conta de duas inofensivas jovens, tome muito cuidado, pois elas nunca estão sozinhas. Alguém bem mais parrudo que você e igualmente acima de qualquer suspeita lhes dá proteção. Ou seja, se você perceber que está sendo furtado, fuja ao invés de partir para o ataque. Uma reação agressiva pode custar bem mais caro que aquilo que era o objeto do furto! De agressor, você poderá passar rapidamente a agredido.

Certos furtos I - Itália

Mas vamos mudar o rumo dessa prosa! Se as situações como as descritas nos posts anteriores são pura “roubada” em nossas viagens, muito pior é ter que se deparar com o furto, puro e simples. Uma roubada dá um tempero amargo, mas um furto pode arruinar uma viagem!

Nós pobres mortais diríamos: fui roubado. Mas os especialistas em direito imediatamente nos corrigem afirmando que o roubo implica violência, enquanto o furto não. Mero tecnicismo. Apesar de concordar que encarar um trezoitão deva ser uma experiência um tanto traumatizante, acho que no final das contas o desastre acaba sendo muito semelhante.

Viver, no mundo de hoje, já tinha deixado de ser um passeio no parque bem antes de eu me entender como gente. Viver em uma grande metrópole, então, nem se fala! Os habitantes de uma cidade grande conhecem todas as regras não escritas e não explícitas e sabem driblar, na medida do possível, as situações potencialmente problemáticas ou perigosas... situações essas que não estão necessariamente claras para um viajante que acaba de chegar de fora! É claro que essas precauções muitas vezes chegam a beirar a paranóia pura e simples. Carioca que se preze tem medo até de gari... afinal, quem garante que é um gari?

O turista pode fazer o esforço que quiser para se parecer e agir como um nativo, mas jamais conseguirá. Parece que nós turistas temos essa denominação marcada em néon brilhante que pisca incessantemente em nossa testa. Se para o cidadão comum esse letreiro está escrito “TURISTA”, para o ladrão ele é lido como “OTÁRIO”, transformando-o em vítima preferencial.

Diz o ditado que “em rio que tem piranha, jacaré nada de costas”! Ou seja, ele protege seu ponto mais fraco que é o tecido fino da barriga. É dessa maneira que procuro agir sempre que viajo, sendo que os cuidados a serem tomados podem ser maiores ou menores dependendo do grau de periculosidade da cidade ou do local que visito.

É óbvio que se você passeia por Avignon, na França, dá para ficar mais relaxado do que se você estiver em Marselha, a menos de 100km de distância. Passear em Paraty, Noronha, Bonito ou Ouro Preto é uma coisa; Rio, São Paulo, Recife ou Salvador é outra bem diferente!

Ouse andar com jóias ou uma câmera fotográfica cara no Rio para ver o que lhe acontece! Por outro lado, e talvez devido às precauções que tomo, nunca fui furtado no Brasil. O mesmo não posso dizer de Paris e de Washington!

Tá legal que houve uma tentativa frustrada de furto em Fortaleza. Estávamos aguardando um táxi no final da Praia do Mucuripe, bem pertinho do mercado de peixes, quando ouvi o barulho de alguém que havia saltado bem atrás de mim, seguido de um forte puxão na minha pochete (sim, naquela época eu usava pochete, “aquele trem brega”, segundo a Mary!). Era um rapaz que havia saltado o muro que divisava com a favela e estava tentando furtar minha pochete. Minha sorte era que ela estava presa ao passador de minha calça jeans e ele, ao ver que estava mais difícil que originalmente pensava, desistiu e saiu correndo! Confesso que foi um belo susto, mas ainda consegui mandar lembranças à distinta mãe do indivíduo antes que ele desaparecesse na curva!

Na Itália existe o tradicional golpe do grupo de crianças pedintes que abordam turistas pedindo esmolas. Elas chegam em bando e diversas delas se aproximam falando alto, tocando você com pedaços de papelão. É aí que mora o perigo! Enquanto você está distraído com a barulheira delas, o papelão bloqueia a sua visão para o furto que elas estão fazendo por debaixo. E assim que conseguem pegar a sua carteira, desaparecem tão rápido e ruidosamente quanto chegaram.

Já passei por isso tanto em Roma como em Florença! Minha sorte foi a de já ter lido sobre esse golpe antes da minha primeira ida à Itália e, quando elas apareceram, já estava preparado! Foi só tentarem se aproximar de mim que levantei a mão ameaçando dar um belo tapão na primeira que chegasse mais perto. Tentaram uma, duas vezes e desistiram, saindo correndo em busca de uma vítima menos atenta e mais fácil. Se isso se passar com você, não tenha receio em partir para o ataque, que será a única forma de detê-las. De bobas, essas crianças não têm nada!

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Pequenas roubadas VII - Pânico em Sydney

Veja também os posts "Pequenas roubadas I - cartão de crédito recusado", "Pequenas roubadas II – mais cartão de crédito", "Pequenas roubadas III – bagagens perdidas e overbooking", "Pequenas roubadas IV – conjugando o verbo goiabar", "Pequenas roubadas V – extorsão em Praga” e “Pequenas roubadas VI – situações de alta tensão"

Ao ler o post anterior, a Marcela, minha sobrilha (sobrinha que virou filha), me mandou esse relato. Hoje é de dar boas risadas... mas imagino o perrengue que passaram!


1998: Estávamos eu e uma amiga visitando a host family que abrigou a Flávia, minha irmã, em Melbourne... Visita feita, fui abastecida de maçãs, pipoca e uns biscoitinhos horrorosos para encarar o busão para Sydney. Deram dicas sobre a cidade, falaram da Opera House, Harbour Bridge e blábláblá... A ÚNICA recomendação foi "NÃO VISITEM KING´S CROSS POR MAIOR QUE SEJA SUA CURIOSIDADE". Ok! Afinal, nem daria tempo, pois a estada na cidade seria muito curta.

Estávamos simplesmente acabadas de tanta farra em Melbourne e dormimos quase a viagem toda. Às 2 da manhã, um mocinho franzino, empregado da empresa de ônibus, nos acorda avisando que já estávamos na garagem da empresa, parada final daquela linha... Considerando que não tínhamos onde dormir mesmo (coisas de adolescente e que, agora que serei mãe, vou encher de porrada o meu filho se ele fizer algo parecido), pensamos: "Ah, ok... Vamos ver qual é"... Mesmo porque a viagem toda tinha sido assim, era a última parada e estávamos sãs (ou quase) e salvas!!

Na esquina, um amistoso grafite dizia "King´s Cross: things that you could never imagine happen here" (King’s Cross: coisas que você nunca imaginou acontecem por aqui)... PÂNICO!!!!!!!!!!

O primeiro pensamento foi: será que temos muita cara de turista?? Claro que não... Botinha da Redley, short tipo camuflado, um mapa embaixo do braço, bronze do verão brasileiro, câmera pendurada no pescoço e um simpático backpack de 12kgs na corcunda... Tava sossegado então!!

A entrada mais próxima que PARECIA segura era o Mc Donalds... Doce ilusão! Enquanto nos trocávamos, pessoas cheiravam cocaína na pia... Se fossem "pessoas normais que cheirassem cocaína" até que tudo bem (já que tá no inferno, abraça o capeta), mas eram quase alienígenas... Pessoas com piercings que iam do nariz à orelha, passando por um gancho no lábio, cabelos coloridos, arrepiados, tosados, tatuagens no couro cabeludo, roupas que brilhavam no escuro, com direito a lâmpadas tipo árvore de Natal... Tinha um cidadão que tinha até uma daquelas bolas de ferro de presidiário amarrada no tornozelo, a qual ele carregava ao andar... Ou seja, só gente fina!! Eu me sentia a própria Tina Turner no filme Mad Max, o maior sucesso de bilheteria do cinema australiano... Até procurei mas não consegui achar o Mel Gibson por lá...

Quase com cara de "Ozzy People" e tentando camuflar a gigantesca mochila (bem que me falaram que era besteira levar uma panelinha...), fomos procurar o que comer. Ah, no Mc não rolava... A atendente tinha mais cara de suja que meu mecânico! Sem falar na procedência duvidosa do molho barbecue que só faltava ser fluorescente...

O bar da esquina não tinha tanta cara de doido. Pessoas mais velhas, com umas roupinhas de couro, mas ajeitadas... Ao entrar, alguém perguntou: vocês entendem bem o inglês?? Que diabos de pergunta é essa? Pra pedir um cheeseburguer e uma coca preciso dominar a língua falada e escrita?? Bom, a pergunta tinha fundamento... Era um bar que tinha arremesso de bumerangue por pessoas já "levemente" alcoolizadas, porém, educadas... que avisavam antes de arremessar... Supimpa!

Comemos e fomos pra rua... Procurando um canto pra dormir, só encontrávamos hotéis que não se encaixavam no nosso humilde orçamento de intercambistas.

Lá pelas 4 da matina, encontramos um lugar viável e minimamente normal. Servindo Space Cake de boas vindas, era possível escolher a opção de "andar misto": homens e mulheres dormiriam onde quisessem, dividiam o banheiro e sabe se lá mais o quê!! Acreditem: era MAIS caro que o "regular" (vulgo "sem graça", para eles...). Brinquei perguntando se não havia a opção de se dormir em pé e de olhos abertos... Não foi uma brincadeira bem recebida, diga-se de passagem...

Estávamos num prédio gigante, tipo Hotel California, onde, para dormir, você usava um cadeado para prender sua bagagem ao pé da cama e, na porta do quarto, havia algo parecido com um "não perturbe", mas que, na verdade, permitia ou não que as pessoas entrassem no seu quarto para te levar para as festas internas... Mas nem pensar!!! Incrivelmente, essa aviso simpático também ficava preso na janela... Não me atrevi a olhar pro lado de fora e descobrir o motivo...

O despertador era previamente marcado. Tocava às 5, 6, 7, 8 e 9, você querendo ou não... Por despertador entende-se uma criatura com altos níveis de drogas no cérebro, sangue, buraco do nariz, do ouvido etc cantando no "videokê" que tinha canal aberto em todos, sim toooodos, os quartos.

A experiência, hoje, é engraçada, mas, se valeu pra alguma coisa, foi apenas pra contar estória...

Diz a lenda que agora em 2011 o local é menos doido... Sinceramente, não pago pra ver...