Ao preparar as minhas viagens, eu procuro fazer uma pesquisa bem detalhada dos lugares por onde vou passar. Ou seja, começo a “viajar” bem antes da viagem começar. Acho isso fantástico e envolvente.
Manzanar fica na Califórnia, a leste da Sierra Nevada, bem próximo do Vale da Morte |
Já tinha
ouvido falar dos campos de "concentração" que os japoneses-americanos
ficaram confinados durante a guerra. Ao preparar minha viagem pelo Oeste Americano, em 2014, vi que ia passar ao lado de
Manzanar (N 36.728309° W 118.146796°), um desses campos. Incluí imediatamente no
roteiro e passei a ler mais sobre o assunto. É simplesmente estarrecedor!!!
Durante a viagem visitei o local, símbolo de uma das maiores vergonhas da democracia americana.
Torre de vigia do Centro de "Recolocação" |
Para quem
não conhece, Manzanar era um dos 10 campos de recolocação (eufemismo para não
chamá-los de campos de concentração) onde foram aprisionados mais de 110000
imigrantes japoneses e seus descendentes, durante a Segunda Guerra Mundial.
Dois terços deles eram cidadãos americanos de nascimento e a maioria dos demais,
imigrantes que viviam nos EUA a mais de 3 décadas, só não tendo se nacionalizado
americanos porque a legislação da época impedia.
Demarcação do Bloco de Alojamentos 22 |
Todos eles
com direitos civis garantidos pela Constituição Americana, que afirma que
ninguém pode estar preso sem acusação formada. Apesar deste direito estar
garantido, mais de 110000 pessoas foram presas por mais de três anos pelo
simples fato de terem origem japonesa e representarem um "perigo" em
tempos de guerra. Nenhum deles foi sequer acusado de qualquer ato de traição,
sabotagem ou espionagem, e muito menos julgados e condenados. Simplesmente
encarcerados devido a sua origem japonesa.
Alojamento 1 do Bloco 14. Aí viviam 4 famílias, sem qualquer privacidade. |
O louco
de toda a história de Manzanar é a enoooorme discriminação que sustentou essa
segregação. Brutal!
Para entrar nos campos de recolocação, eles tiveram que se desfazer de tudo em 48 horas. Só puderam levar o que puderam carregar. Na liberação, ganharam US$ 25 mais uma passagem para onde quisessem. Mas ir para onde, se haviam se desfeito de todos os seus bens?! Isso sem considerar a enorme discriminação que iriam sofrer, já que eram “japoneses” e não americanos!
A discriminação contra os japoneses, mesmo antes da II Guerra Mundial, era muito grande |
Em 1988 o
governo americano deu, como indenização, US$ 20000 a cada sobrevivente desses
campos, além de um pedido formal de desculpas pelo ocorrido. MUITO POUCO!
Em 2012
foi lançado o filme “The Manzanar Fishing Club” (clique aqui para ver o trailer), que concorreu ao Oscar de Melhor
Documentário e relata a vida no campo de “recolocação” sob o ponto de vista dos
que lá estiveram aprisionados. Mas vale também ver esse curto filme da PBS,
“Manzanar, Never Again”! (clique aqui para ver o filme)
Calor infernal no verão, frio de matar no inverno e sempre com vento empoeirado. As condições de vida eram bastante precárias |
O
primeiro diretor do campo de Manzanar pediu demissão depois de meros três meses
e disse ao seu substituto. "Aceite o cargo se conseguir dormir sabendo que
milhares de inocentes estão encarcerados"!
Sepultura do pequeno Jerry Ogata. Note a rosa desidratada pelo calor e secura do deserto! |
Manzanar
é importante para os EUA, assim como para todo o mundo, por mostrar a
fragilidade dos direitos civis, que apesar de serem garantidos na Constituição
a todos os cidadãos americanos, de nada valeram em um tempo de guerra.
Memorial
no cemitério do Manzanar War Relocation Center, California
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