quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Oeste dos EUA 2014 – Matusalém


Veja também os demais posts da série “Oeste dos EUA- 2014”: Dia 0, “Começou torto!”, "Rota 66", "Navajo Nation", "Um lago ancestral" e "Pelas frestas do Arizona

Imagine um ser que nasceu durante a regência do faraó egípcio Pepi II, há mais de 4200 atrás. Mas sobreviveu a ele, para ver o código de Hamurabi, o nascimento de Cristo, a descoberta da América, a bomba de Hiroshima, o homem na lua... e ainda viu o Edu passar por perto sem que esse ser fantástico fosse reconhecido!
Oeste dos EUA - Ancient Bristlecone Pine Forest
Antes que você ache que fumei maconha estragada, esse ser EXISTE!!! Existe, é uma árvore e se chama Methuselah (Matusalém). Junto a ela, outras 17 árvores têm mais de 4000 anos de vida, sendo que uma delas, chamada de “Bisavô”, tem mais de 4600 anos.
Sierra Nevada vista das White Mountains
Esse milagre da natureza é o “bristlecone”, um tipo de pinheiro conhecido cientificamente como  Pinus longaeva.
Típico "bristlecone" - lindamente retorcido!
O "bristlecone" tem algumas características impressionantes. Primeiro, como já falei, é a sua longevidade. Passa fácil dos 3000 anos. A segunda é sua fantástica resistência às adversidades. Cresce em terreno árido e pedregoso, em grandes altitudes (acima de 2500m), resiste ao fogo e a secas prolongadas. E o mais curioso: quanto maior a adversidade, maior a sua longevidade!
Note o solo árido e pedregoso onde o "bristlecone" vive
A datação é feita através do exame microscópico dos anéis de crescimento. Anos de fartura, anéis mais largos. Anos de seca, anéis mais finos. O mais interessante é que o estudo desses anéis, em diversas árvores e de regiões diferentes pode ser uma espécie de registro fiel do clima dos últimos milênios!
A idade de uma árvore é medida pelo número de anéis de crescimento
Visitei a Ancient Bristlecone Pine Forest (N 37.385646° W 118.179104°), uma reserva florestal que fica nas nas White Mountains, na Califórnia. Essa reserva protege a maior floresta de “bristlecones” dos EUA.
Detalhe do tronco
Para quem já viu uma sequoia, pode imaginar o “bristlecone” como uma árvore portentosa. Muito pelo contrário! Não passa de 10 metros de altura e mais parece um ancião que tem seu corpo retorcido, marcado pelos duros anos de vida. Para nós, fotógrafos, seu tronco e galhos retorcidos, são uma dádiva em termos visuais!
Uma típica árvore longeva, provavelmente com mais de 3000 anos
O impressionante é que, muitas vezes, a árvore parece morta, mas está apenas adormecida, poupando-se das dificuldades que a vida lhe impõe. Tão logo seja possível, irá nascer um novo ramo e produzir pinhões, que darão sementes a novas árvores.
Bela flor do campo
Tudo isso é lindo! O duro mesmo foi fazer a tal de Methuselah Walk, uns 7km de trilha entre 3000 e 3500m de altitude. O “jovem” aqui embarcou nessa aventura e acabou cuspindo o seu pulmão no meio do caminho.
Detalhe de uma raiz
Peço encarecidamente a todos os que, por acaso, forem fazer essa trilha: se acharem o meu pulmão perdido, favor devolver!!!
Ancient Bristlecone Pine Forest - um passeio imperdível entre os seres vivos mais antigos do planeta!


sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Mergulhando pelo mundo – Eagle e USS Arizona

Veja também os outros posts da série “Mergulhando pelo mundo”: "Afinal, o que é mergulhar?", “SS Sapona e Castor”, “Rosalinda e Pinguino”  e "Captain Slate"


Nem sempre o afundamento de um barco se dá por acidente. Muitas vezes eles ocorrem de forma planejada.

Um naufrágio criminoso, por acaso? Não, completamente legal, planejado e autorizado.

A essa altura você estaria se perguntando por quê raios alguém resolveria afundar um navio? Muito simples, para transformá-lo em um ponto de visitação turística.

Os barcos são comprados, limpos (para evitar que possam agredir o meio ambiente), preparados (para evitar que determinadas peças possam oferecer perigo ao mergulhador) e afundados com toda a pompa e circunstância em locais predeterminados, onde passarão a servir ao turismo local. Essa prática, que pode ser considerada uma aberração aos olhos xiitamente vesgos dos eco-chatos, é muito comum lá fora.
O cargueiro Eagle
Esse naufrágio, após alguns anos, se transforma em um recife artificial. Ao casco do navio aos poucos vão se agregando cracas, corais, esponjas, algas... aparecem peixinhos que deles se alimentam... e peixes maiores que comem os peixinhos... e tartarugas, arraias, moreias, barracudas, tubarões... e os mergulhadores, que extasiados com a beleza do mergulho, enchem a burra do comércio local, que fica feliz da vida. 

Se todo naufrágio é um universo cheio de vida, por que não podemos dar uma ajudazinha à natureza?!
Parte superior do casario do Eagle
Visitei em 1990, em Lower Matecumbe Key, Flórida, um desses naufrágios provocados: o cargueiro Eagle. Com mais de 90 metros de comprimento, o Eagle pegou fogo e foi declarado como perda total. Um grupo de comerciantes, em conjunto com a Secretaria de Turismo do Condado de Monroe, investiu US$10,000 na compra, limpeza e afundamento do barco. Tendo mergulhado no Eagle menos de 5 anos depois de seu afundamento, ainda não havia aquela profusão de vida que acostumamos ver nos naufrágios mais antigos. Por outro lado sua visão é majestosa, é imponente! Foi um daqueles mergulhos que nunca me esquecerei!
Naufrágio do Eagle, na Flórida
Mas o navio naufragado mais famoso que já visitei não foi através de mergulho, mas no seco e acima d’água. Foi o naufrágio do histórico USS Arizona, no porto de Pearl Harbor, no Havaí, hoje transformado em um monumento à memória daquele dia de dezembro de 1941 em que o Japão atacou os Estados Unidos, empurrando os americanos para dentro da Segunda Guerra Mundial.
Vista aérea do Memorial, com o USS Arizona por debaixo
A destruição do USS Arizona foi provocada por uma única bomba, que penetrou seu convés, indo explodir no paiol de munições. A destruição foi cataclísmica e nela morreram 1177 dos 1400 praças e oficiais que estavam a bordo. Sobre os seus destroços foi construído um monumento em memória às vitimas. 

Desnecessário dizer que a visita ao USS Arizona é uma experiência repleta de emoção. Ver as lágrimas dos veteranos americanos e japoneses ao visitar o monumento marca profundamente o mais insensível dos homens e nos faz pensar na insanidade das muitas vidas perdidas nas guerras que as nações insistem em provocar.
O USS Arizona em chamas durante o ataque a Pearl Harbor
Mas se a Marinha Americana foi à lona em Pearl Harbor, a batalha de Truk Lagoon levou a Marinha Japonesa ao nocaute em 17 de fevereiro de 1944, exatos nove anos antes do meu nascimento.
Restos de um caça japonês Zero, em Truk Lagoon
Truk Lagoon fica na Micronésia e, devido a profundidade de suas águas e a segurança fornecida pelo recife que circunda o atol, era um porto natural, transformado na mais importante base naval japonesa durante a Segunda Guerra Mundial. Na batalha foram afundados mais de 60 navios e 270 aviões. Até hoje alguns desses naufrágios ainda não foram descobertos.

Seja como for, é um dos meus sonhos dourados de mergulho mundial, que espero um dia ainda realizar.
Tanque em um dos muitos navios japoneses afundados
Outra área repleta de naufrágios, que ainda espero mergulhar, fica aqui no Brasil: o Parcel Manoel Luís, no litoral do Maranhão, ainda hoje temido pelas suas fortes correntezas que jogam os navios contra os recifes de coral.
Outro Zero, caça japonês, afundado
Foi nesse parcel que afundou, em 1862, o navio Ville de Boulogne. Nesse naufrágio todos sobreviveram, exceto o poeta Gonçalves Dias, famoso pelo seu poema “Canção do Exílio”. 
Mapa de parte dos naufrágios no Parcel Manoel Luís, no Maranhão
Nele o poeta fala “Minha terra tem palmeiras, onde canta o sabiá ... Não permita Deus que eu morra, sem que eu volte para lá.” 

Pois é, não deu, né!!