terça-feira, 30 de agosto de 2011

Portugal e Espanha - Sintra

Veja também os posts "Portugal e Espanha – Vale tanto quanto uma tripa!", “Portugal e Espanha – Tromba rija!" e “Portugal e Espanha – Mais parece novela da Globo!".

Chegamos a Sintra no fim da tarde e o dia estava simplesmente horroroso!

Nuvens fechadas, chove um tanto, para de chover, muito vento e temperatura despencando a ponto de eu colocar um agasalho pela primeira vez (e única!) na viagem. A Mary a essa altura, friorenta como vocês sabem, já tinha colocado uns dois.


Depois de um dia com tanta caminhada e tanto monumento bonito sendo visitado, você vai chegando a um certo ponto de saturação.

Quando fomos visitar o Castelo Nacional de Sintra, ingresso custava uns 12 euros para cada, alto para o que temos visto. Não era o suficiente; não aceitavam cartões e tinha que ser em dinheiro! Como já estava tarde e a visita seria apenas de uma hora, jogamos a toalha e demos um basta para o dia.


Optamos por passear pela cidade e ficar bagulhando pelas lojas de artesanato. Com meia hora de sobe morro e desce morro, vendo a mesmíssima quinquilharia da loja anterior, jogamos a segunda toalha.

O que queríamos mesmo era um jantarzinho romântico para fechar o dia. Nada feito!

Acho que os nossos santos protetores estavam mais cansados do que nós e já tinham batido em retirada, pois nunca fomos tão maltratados em restaurantes.

O primeiro restaurante era uma recomendação do Trip Advisor. Sob forte risco de chuva, quisemos sentar em uma área coberta para jantar. Fomos impedidos porque aquela área só abriria às sete e “ainda” mal passava das seis.

O restaurante vizinho estava absolutamente VAZIO, mas fomos impedidos de sentar lado-a-lado em uma mesa de quatro lugares. Argumentei que desocuparíamos a mesa MUITO antes do restaurante começar a encher e que queria namorar a minha esposa. Neca!

Para quem me conhece, sabe que minhas ventas já estavam pra lá de abertas, sinal que minha paciência já tinha ido pro espaço!

O garçom foi irredutível, mesmo quando falei que ele estava perdendo o cliente. Foi aí que veio o gerente e disse pro garçom: “deixe que ele se vá”!

Mary levou algum tempo para jogar água na fervura, até entrarmos no terceiro restaurante.

Com algum stress na escolha da mesa, prerrogativa do garçom, onde você não tem direito a pitaco, conseguimos finalmente jantar. A comida não era nenhuma brastemp, apesar de serem dois pratos típicos da culinária portuguesa: Bacalhau às natas e Bacalhau ao Brás.

Como realmente não era nosso dia, a “cereja do bolo” veio na hora de pagar. Mesmo com uma conta de 35 euros, eles não aceitavam cartões de crédito, apenas pagamento em dinheiro!!! Paguei bufando, o garçom ficou sem os 10% e esses restaurantes ainda receberão comentários meus nada recomendáveis dentro do Trip Advisor!

Nossos santos protetores só acordaram bem depois do meio dia e, com isso, a região amanheceu com um nevoeiro tão espesso que mal se via o que estava lá fora.

Como nossos dois passeios da parte da manhã seriam o Castelo dos Mouros e o Palácio Nacional de Pena, que ficam no alto de um morro e bem no meio desse espesso nevoeiro, visitar seria um puro desperdício.

Passamos a régua e seguimos para o Palácio de Queluz, onde nos esperavam nossos anjos protetores, felizes e recuperados da labuta do dia anterior. Nos esperavam com um sol maravilhoso e com a notícia de que a visita ao Palácio, naquela tarde, era gratuito!

Foi uma bela e grata surpresa! Como português não sabe fazer surpresa, a visita começa exatamente pelo salão mais lindo e exuberante do palácio, a sala do trono.


Foi um anti-climax, pois por mais belos que fossem os salões seguintes, como a sala de música,...


... os aposentos vermelhos da Princesa Dona Maria Francisca Benedita...


... e o quarto Dom Quixote, onde nasceu e morreu Dom Pedro IV (o nosso Dom Pedro I), ...


... nada superou a primeira visão que tivemos. Mais que isso, começamos a ver os tradicionais sinais de desleixo, ...



... culminando com um riacho de esgoto a céu aberto que corre ao lado da lanchonete, nos jardins do palácio.


Seja como for, valeu a pena o passeio. Lisboa, aí vamos nós!!

Portugal e Espanha - Mais parece novela da Globo!

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A cada dia que passa está mais difícil de acordar! E quando amanhece nublado bate uma preguiça...

O pior é que o dia seria bastante movimentado, com muita coisa para visitar e chão para percorrer. Mais que isso, o dia estaria repleto de intrigas, traições, assassinatos, lutas encarniçadas... todos os ingredientes para uma boa novela da Globo! Mas seriam apenas capítulos da história portuguesa. Como o dia prometia, o jeito foi sacudir a lezeira e cair na estrada.

Nossa primeira parada foi no Mosteiro de Batalha, merecidamente uma das 7 Maravilhas de Portugal.

Plim! Plim!!! Início da primeira novela!

Em 1383 morre Dom Fernando I, último rei da dinastia de Borgonha. Fernando tinha uma única filha, que era casada com o rei da Espanha. Com isso, Portugal corria o risco de perder sua independência.

Quais as opções disponíveis? Dois filhos homens de Dom Pedro I com Inês de Castro (vide a próxima novela, no horário de Alcobaça) e João, filho ilegítimo de Dom Pedro I, pai de Fernando, com uma nobre espanhola.

Com os meio-irmãos presos pelo rei de Castela e com Portugal sendo invadido pela Espanha, João assume a regência e a incumbência de manter a independência de Portugal. Com a ajuda dos aliados ingleses, João vence os espanhóis na Batalha de Aljubarrota e proclama-se rei de Portugal, sendo o primeiro rei da dinastia de Avis.


Em agradecimento à vitória sobre os espanhóis, Dom João I manda construir o belíssimo Mosteiro da Batalha, uma obra em estilo gótico onde busca afirmar o poderio e riqueza da dinastia que se iniciava.


A Capela do Fundador, onde estão os túmulos de D. João I e sua esposa, é de uma beleza arquitetônica indescritível.



No entanto, aquela que seria o espaço mais majestoso do Mosteiro de Batalha, o Panteão de Dom Duarte ou Capelas Incompletas, jamais chegou a ser terminado. Mesmo assim impressiona pela sua grandeza e riqueza de detalhes.


Plim! Plim!!! Rede Gloooobo!!!

Dali fomos para Alcobaça, onde seu famoso mosteiro também está na lista das 7 Maravilhas de Portugal. Tem bagagem histórica para estar na lista, mas como monumento não é essa cocada toda!


Vale muito mais como história e estória, onde conteúdo não falta pois lá estão os túmulos dos eternos apaixonados Pedro I, rei de Portugal, e Inês de Castro, nobre espanhola, coroada rainha depois de morta em meados do século 14.

É a mesma Inês imortalizada nos versos de Camões: “agora é tarde, Inês é morta”!

Plim! Plim! Início da próxima novela, que se passa a três reinados antes da novela anterior!

Por necessidades de alianças políticas, o futuro rei Pedro I, teve que casar-se com Constança Manuel, filha de poderoso nobre espanhol. No séquito da nobre espanhola veio Inês, com a qual Pedro se apaixonou e se tornou amante.

Vendo as frágeis relações de Portugal com a Espanha em perigo pelo romance de Pedro e Inês, o rei Afonso IV exila Inês no país vizinho. A solução durou pouco tempo, pois Constança morreu ao dar a luz ao futuro rei Fernando I (vide a novela anterior!).

Com Pedro viúvo, Inês retorna do exílio e retoma o romance com Pedro, longe da corte. Juntos tiveram quatro filhos.

No entanto, o rei Afonso IV, certo de que Inês continuava a representar um real perigo, decide mandar matá-la, aproveitando-se da ausência de Pedro em uma excursão de caça. Revoltado com a morte da esposa, Pedro foi à luta contra o pai, em uma guerra civil que somente terminou em 1355 com a intervenção da mãe.

Dois anos mais tarde Pedro se torna rei e legitima Inês como rainha. Manda exumar o cadáver de Inês e, em uma cerimônia, obriga toda a corte, que se opunha a ela, a beijar sua mão em decomposição. Desnecessário dizer que os criminosos foram perseguidos, presos e executados... da forma mais cruel possível!

Pedro nunca mais se casou e mandou construir dois maravilhosos túmulos, colocados um diante do outro no mosteiro de Alcobaça, para que sua primeira visão no dia do Juízo Final, fosse a de Inês!



É, ele não se casou mas nem por isso deixou de ter os seus romances, embaralhando por completo os rumos da futura sucessão real em Portugal (vide novela anterior).

Plim! Plim!!! Parece novela da Globo, mas não é!

Nossa próxima parada foi a belíssima e charmosa cidade de Óbidos. Uma grata surpresa em nossa passagem por Portugal.


Cercada de muralhas medievais e repleta de estreitas ruelas, em Óbidos se respira turismo. Dentro da cidade amuralhada todas as casinhas são pintadas de branco, adornadas com faixas amarelo ou azuis. Isso dá um visual diferente e um charme especial à cidade.


Em uma casinha encontramos uma loja de artesanato, na seguinte um antiquário, na outra um restaurante, mais adiante um atelier de cerâmica... Numa pracinha um conjunto toca um delicioso jazz instrumental. Na igreja, a saída de um casamento (cacilda, como tem casamento nessa terra!). Ah, ia me esquecendo: e tome turista; turista às centenas!!!


Qual o único problema de Óbidos? Bem, o nublado da manhã tinha ficado bem mais forte e começava a chover. Não era nenhuma chuva que impedisse o passeio, mas sempre estraga a brincadeira.

Fechamos o dia em Sintra, mas disso a gente fala no próximo post.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Portugal e Espanha - Tromba rija!

Veja também os posts "Portugal e Espanha – A lenda do galo de Barcelos", “Portugal e Espanha – Considerações ibéricas" e “Portugal e Espanha – Vale tanto quanto uma tripa!".

Ontem fechamos o dia em Coimbra, percebendo que teríamos mais uma dose do mesmo pacote recebido no Porto! Por outro lado, por ser uma cidade de cunho fortemente universitária, tínhamos uma expectativa positiva.

Diríamos que foi mezzo a mezzo!! Mezzo calabresa, mezzo mozzarella!!

Coimbra respira o ar de sua universidade, fundada em 1290. Hoje são mais de 30000 estudantes, a maioria vinda de fora.

Por outro lado, o ser humano, em Coimbra, deveria ser dividido em cabeça, tronco e... ASAS!! Cacilda, como essa cidade tem ladeira! Haja perna para agüentar tanta ladeira e escadaria! Melhor se tivéssemos asas e chegássemos rapidinho lá em cima, onde fica a universidade, uma vez que nos hospedamos na Baixa.

O pior é que com a gente se arrastando ladeira acima, precisávamos fazê-lo prendendo a respiração, uma vez que aquele tradicional e desagradável “cheirinho” que já comentamos, se espraiava pelo caminho.

Para distrair, pichações! Os estudantes de Coimbra têm o costume de pichar poemas e frases exotéricas pelas paredes da cidade. Não suporto pichação, mas tenho que reconhecer que os pichadores daqui têm, pelo menos, um grau de cultura mais elevado que os nossos.

Mas nenhuma pichação superou essa: “BLIBLIA, ditada pelos ETs e maus espíritos...” Acho que a BLÍBLIA a que ele se referia devia ser alguma outra, pois a que conheço é a Bíblia!

Chegamos lá em cima encharcados de suor, pisando língua e com o coração a 412 batimentos por minutos, querendo saltar da boca pra fora!

Os primeiros edifícios da universidade que encontramos mais pareciam blocos monolíticos e acinzentados produzidos na União Soviética dos bons tempos do regime comunista.


Fuça daqui, fuça dali, e encontramos os prédios mais antigos, o Pátio das Escolas (finalista (?!!!) das 7 Maravilhas de Portugal). É bonito, mas nada que causasse algum entusiasmo, assim como foram a Sé Velha, a Sé Nova, o Mosteiro de Santa Cruz e o Arco de Almedina. Classificaria Coimbra como uma cidade insossa!


Leiria, a 75km de Coimbra, valeu pelo mais fantástico restaurante que comemos até o momento: o Tromba Rija. Ele tem três filiais, mas é o original que tem todo o charme. A comida é simplesmente fantástica e o tratamento dado pela própria dona do restaurante, Dona Elizabeth Real, nos faz sentir como reis. O sobrenome explica tudo.

O bufê custa 32 euros e antes que você comece a achar que está caro, DUVI-DE-Ó-DÓ-DÓ que você consiga experimentar cada uma das dezenas e mais dezenas de iguarias que lhe são oferecidas. Ah, e uma garrafa de vinho está incluída no preço.


Comece pelo balcão de entradas (mais de 20), queijos (mais de 10) e saladas (umas 5). Prossiga pelos pratos quentes (uns dez pratos típicos da culinária portuguesa, sendo que dois deles, um bacalhau e a carne são os carros fortes). Optei pelo bacalhau, é claro! O prato foi montado com todo o cuidado e carinho pela Dona Elizabeth.

Terminado o prato principal, não podemos nos esquecer das sobremesas (umas 8). Ao voltar à mesa, lhe espera um pequenino copo de sorbet de limão, digestivo para tirar o gosto do salgado de sua boca e prepará-la para as sobremesas.


A essa altura do campeonato, você já está jogando a toalha e rezando para uma ambulância estar lhe esperando lá fora. Pois ainda tem mais! Para cortar o sabor do doce, vem um baita cesto de frutas (mais de 10 diferentes).

Cabou? Nananinaná!!!! Ainda tem um cesto de avelãs, amêndoas e nozes, acompanhadas de vinho do Porto e aguardente bagaceira.


Bem, agora só falta um cafezinho... com uns biscoitinhos e licor caseiro de amêndoa amarga, pois ninguém é de ferro.

Agora me diga: ainda está achando caro? E olha que nossa versão de almoço, na sexta, foi light, comparada com o que é oferecido no sábado e no domingo!

Para fazer a digestão, nada como subir um morro, não é mesmo?! E lá fomos nós, morro acima, visitar o Castelo de Leiria, Apesar de não ter sido berço do primeiro rei de Portugal, como obra de arquitetura dá de 10x0 no Castelo de Guimarães. Pena que o mesmíssimo desleixo com o patrimônio nacional estivesse presente.


O turista que paga uma entrada, quer ver um monumento tinindo de belo, e não com restos de um show de música que ocorreu a uns 15 dias e que ainda não retiraram toda a tralha. Nem com cabo de energia cruzando pelo alto, entre uma torre e outra ou descendo pelas paredes do castelo. Ou com barreiras feitas de plástico jogadas nos cantos das muralhas como se fossem lixo.


Parece implicância, mas não é. Quando se faz uma viagem como essa a gente vai ficando mais crítico e seletivo, devido a tanta coisa linda que se vê... e não se admite uma coisa que seja meia boca, ou marcada pelo desleixo!

Terminamos o dia em Fátima, um dos locais que simboliza a religiosidade católica,

Em 13 de maio de 1917, três crianças pastoras viram uma figura brilhante em um azinheiro, árvore local. Essa figura, Nossa Senhora, lhes pediu que voltassem no mesmo dia, durante seis meses. Em sua última aparição, acompanhados de mais de 70000 peregrinos, Lucia, uma das crianças pastoras, ouviu os famosos “segredos de Fátima”.

Ao lado do azinheiro foi construída uma capela e mais adiante a grande basílica e uma esplanada gigantesca que é duas vezes maior que a Praça de São Pedro, em Roma.


Um longo caminho em granito polido se estende por toda a esplanada, percurso que muitos peregrinos pagam suas promessas percorrendo-o de joelhos.


Acreditando ou não na estória, sendo católico ou não, ninguém pode deixar de se impressionar com as manifestações de fé dos peregrinos presentes, que é externada de uma forma completamente diferente daquela que vimos em Santiago de Compostela.

Portugal e Espanha - Vale tanto quanto uma tripa!

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Diz a lenda que quando o Infante D. Henrique, de Portugal, preparou-se para a conquista de Ceuta, no Norte de África, em 1415, mandou preparar 27 navios na cidade do Porto. Uma operação militar como essa dependia não apenas de navios, mas também muitos homens e mantimentos, inclusive carne, que era salgada. A população da cidade do Porto colaborou ativamente oferecendo toda a carne de podia dispor. E o que restou para os seus habitantes? Restaram as tripas dos animais. Daí os habitantes dessa cidade serem conhecidos como “tripeiros”... e uma conhecida receita, a Tripas à moda do Porto!

Como já não sou chegado à nossa dobradinha, que me dá embrulho no estômago só de pensar, nem quero imaginar a tal tradicional receita de tripas.


Mas onde quero chegar? Quero dizer que o Porto foi para nós uma tremenda e lastimável decepção. Chegamos cheios de expectativa e encontramos uma cidade IMUNDA!

Não chegamos a visitar Gaia, onde ficam as vinícolas produtoras de vinho do Porto e não sei como é a coisa do lado de lá.


A Ponte Luis I é linda e o verdadeiro monumento que marca a cidade! E aqui fica uma curiosidade. Deveria ser Ponte DOM Luis I, rei de Portugal. Mas como ele, apesar de convidado, não compareceu à cerimônia de inauguração, a cidade retirou o “Dom” do nome original, passando a ser conhecida apenas como Ponte Luis I.


A praça da Liberdade é igualmente marcante, assim como os edifícios que ladeiam a Av. dos Aliados.


Não podemos nos esquecer da Estação São Bento, com suas paredes azulejadas.


A Catedral da Sé também é um grande destaque, principalmente a visita ao claustro.




E tem também o... o... tem o...

Sinceramente? Não tem mais nada que encha os olhos!

No entanto, se for para encher o nariz, o que não falta é cheiro de cocô de cachorro, que está impregnado por todos os cantos. As demais igrejas e monumentos da cidade estão no mais completo abandono. Uma pena!!


De bom mesmo foi o jantar no restaurante Dom Tonho! Uma comida fantástica e um tratamento de primeiríssima!

Pegar a estrada e ir para Coimbra foi um verdadeiro alívio.

Para nós, Porto vale tanto quanto uma tripa! Estou falando da cidade e não do vinho, é claro!

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Portugal e Espanha - Considerações ibéricas

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Depois de 12 dias rodando por Portugal e Espanha, tenho alguns comentários a fazer.

Antes de sairmos de viagem, os mercados tremeram ante a possibilidade da Espanha vir a quebrar. Bem, por tudo que vi por aqui, se a Espanha pode quebrar, então Portugal está pra lá de falido!

Tirando eventuais laços sentimentais com a pátria mãe, acho que Portugal perde de 10x0 em qualquer comparação com a Espanha, seja nos dias de hoje como quando se compara o passado.

A riqueza e poderio espanhol em relação a Portugal é notório. Tanto é que Portugal muitas vezes esteve sob ameaça ou sob dominação do país vizinho... nunca o contrário. Aljubarrota que o diga!

Basta cruzar a fronteira para perceber isso: a imponência dos edifícios, novos e antigos, diminui sensivelmente; a sujeira aparece (e COMO APARECE!!!); idem para a abominável instituição dos flanelinhas; e some por completo qualquer senso de modernidade.

Tenho a sensação que Portugal parou no tempo, lá pela década de 60 do século passado. É um país arcaico, enquanto percebe-se que a Espanha busca reinventar-se e lançar-se, cada vez mais, em um mundo globalizado.

E em Portugal, as ruas estão IMUNDAS! Como fedem!!! Eu e a Mary estamos sempre sendo perseguidos por um desagradável cheiro de cocô de cachorro, olhando a toda hora para a sola do sapato para checar se pisamos em algo desagradável. Não, felizmente ainda não pisamos em nada, mas, como a presença de “cacos de vidro” é constante, o mal cheiro no persegue por onde andamos!

Ah, mas tem duas coisas que Portugal tem mais, e bem mais que a Espanha: pedágio a cada curva da estrada e um preço exorbitante na gasolina, cerca de 20% mais!!!

Duas coisas que parecem que viraram passado no Brasil são marcantemente presentes por aqui, e dos dois lados da fronteira: o costume de fumar e o uso intensivo de fritura na culinária! Gente, como se fuma por essas bandas!!! E como se come fritura! Não aquela fritura sequinha e crocante, mas esponjinhas banhadas de óleo! Aaarghhh!!!!

Outra coisa é muito comum por aqui e nos dois lados da fronteira: a pouca vontade em tratar bem o cliente nos restaurantes. E olha que temos ido a restaurantes recomendados por viajantes que postam comentários no site Trip Advisor! O serviço é normalmente frio e seco, dando a sensação de que eles estão fazendo um grande favor em atender vocês. Não foram raras as vezes em que pagamos a conta e não incluímos os 10%

Só como exemplo, vou citar o que aconteceu HOJE, em Sintra, cidade que é uma jóia do turismo português e que está ENTUPIDA de turista. Sob forte risco de chuva, quisemos sentar em uma área coberta de um restaurante para jantar. Fomos impedidos porque aquela área só abriria às sete e “ainda” mal passava das seis.

O restaurante vizinho estava VAZIO, mas fomos impedidos de sentar lado-a-lado em uma mesa de quatro lugares. Argumentei que desocuparíamos a mesa MUITO antes do restaurante começar a encher e que queria namorar a minha esposa. O garçom foi irredutível, mesmo quando falei que ele estava perdendo o cliente. Foi aí que veio o gerente e disse pro garçom: “deixe que ele se vá”!

Com algum stress na escolha da mesa, prerrogativa do garçom, onde você não tem direito a pitaco, conseguimos finalmente jantar. A comida não era nenhuma Brastemp, apesar de serem dois pratos típicos da culinária portuguesa: Bacalhau às natas e Bacalhau ao Brás. Mas a surpresa, veio na hora de pagar. Mesmo com uma conta de 35 euros, eles não aceitavam cartões de crédito, apenas pagamento em dinheiro!!! Paguei bufando, o garçom ficou sem os 10% e esses restaurantes ainda receberão comentários meus nada recomendáveis dentro do Trip Advisor!

Apesar de ter uma vocação turística fantástica, parece que Portugal ainda não despertou para o potencial de geração de empregos desse setor, mesmo com uma taxa de desemprego lá na estratosfera. Talvez por ser um dos países mais baratos da Europa, o turista vem para aqui aos milhares, mesmo sabendo que as atrações turísticas estão abandonadas, as ruas pra lá de sujas e que será mal tratado!

Sinceramente? Eu tô contando os dias para chegar em Sevilha!


Portugal e Espanha - A lenda do galo de Barcelos

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Conta a lenda que em tempos remotos, um estranho foi responsabilizado e condenado à morte por uma série de crimes em Barcelos. Por mais que jurasse inocência, foi levado à forca.

Antes que fosse enforcado, pediu que fosse levado à presença do juiz, que fazia sua refeição, comendo um galo ASSADO. O condenado disse ao juiz, “é tão certo que sou inocente e como é certo que este galo cantará na hora do meu enforcamento”. É óbvio que todos riram. Mas assim ocorreu! O galo assado cantou e o condenado se livrou da forca, retornando anos depois para erguer um monumento a São Tiago e à Virgem.

O Galo de Barcelos é hoje o símbolo mais representativo de Portugal.

E foi em Barcelos que tomamos conhecimento de uma triste exportação de “serviços” do Brasil para Portugal: o flanelinha!!! Felizmente, por aqui, eles ainda não desenvolveram toda a técnica de coerção que os nossos flanelinhas exercem sobre nós, mas nada que um intercâmbio cultural não resolva!

A foto aí de baixo é da igreja matriz, em estilo românico, construída no século 14.


A próxima parada foi em Bom Jesus do Monte. O “monte” a que se refere, é o monte calvário. Como a igreja foi construída no cucuruto de um morro de 116m, o calvário aqui é subir os 581 degraus desde lá de baixo até o topo.

Como o jeitinho brasileiro tem a sua versão portuguesa, eles fizeram um elevador para os que não têm vocação para Jesus.

Tem também a versão light de penitência e você pega a escadaria pela metade, exatamente a parte mais interessante e fotogênica. Optamos por essa!


As escadarias são divididas em três setores, adornados com fontes e estátuas. Olha uma estátua daqui,molha a cabeça numa fonte dali, uma paradinha para uma foto que ninguém é de ferro e uma meia hora depois você está lá em cima. A foto abaixo é da fonte da audição.


Brincadeiras à parte, Bom Jesus do Monte é o monumento arquitetônico mais impressionante que vimos até o momento em Portugal, superando em beleza e em conservação outros considerados como as 7 Maravilhas de Portugal, muitos deles em completo estado de abandono.


Braga surpreendeu por saber modernizar uma cidade antiga com parque, jardins e fontes.


Por outro lado, não dá para acreditar portugueses que trabalhavam como garçons ao lado desse belo castelo medieval não souberam dizer o que era, Pois saiba que é o antigo Paço Arquiepiscopal, hoje uma biblioteca.


Dali fomos para o Castelo de Guimarães, considerado uma das 7 Maravilhas de Portugal. É o local de nascimento de Afonso Henriques, em 1111, primeiro rei e um dos pilares da história do país. Tá legal que nós brasileiros não somos nenhum primor na proteção dos nossos monumentos, mas depois de ver que os 12 Tesouros da Espanha, assim como os demais finalistas são realmente tratados como TESOUROS de uma nação, esperava bem mais que um local onde falta o mínimo de cuidado para algo que é um patrimônio nacional.


Fechamos o dia no Porto. Jogamos as malas no hotel, pegamos um ônibus e fomos passear na Ribeira.

Jantamos no restaurante Dom Tonho, altamente recomendado e que cumpriu com as expectativas. Mary deu mais um passo adiante e conseguiu comer uma salada de bacalhau com grão de bico. Fui de Bacalhau à Julio Fonseca. Um filé de bacalhau cozido no azeite, com batatas ao murro e brócolis!

domingo, 21 de agosto de 2011

Portugal e Espanha - Foi daqui que nós saímos!

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Hoje demos um até logo à Espanha e entramos em Portugal.

O que posso afirmar de cara é que as diferenças entre os dois países são gritantes, mas vou tratar isso em um post em separado.

Caminha não estava no roteiro original e foi sugestão do Beto, que já tem uma vasta quilometragem na região nas suas andanças pelas origens da família Alencar. Confesso que não estava muito animado, mas acabei incorporando. Valeu a pena!

Caminha é uma cidade muito pequena, com vários monumentos com centenas de anos de idade. Entre eles, a casa aí abaixo, onde nasceu Pero Vaz de CAMINHA.


Dali seguimos para Freixieiro de Soutelo. Freixieiro de QUÊ?!! Pois é, já que já estava por lá, resolvemos visitar o local de onde saíram os primeiros antepassados conhecidos da nossa família Alencar.

Pois duvido que o lugarejo tenha evoluído alguma coisa dos princípios de 1700 até hoje!!!

Na minha preparação, consegui as coordenadas geográficas de Freixieiro de Soutelo. Tasquei essas coordenadas na Rachel (nosso GPS) e...

Gente, a pobrezinha da Rachel quase teve um ataque epilético e nos fez embrenhar por umas estradinhas que mal cabia um carro. O pior é que, perdidos, quando perguntávamos onde ficava Freixieiro de Soutelo, as pessoas respondiam “não sei onde fica”, mas respondiam com uma cara de “heeeinmmm”, que chegava a apavorar.

Foi um lavrador, que descia o morro com a família toda aboletada em um trator que nos salvou. Deu algumas correções de percurso e lá fomos nós nos embrenhando pelo interiorzão de Portugal a dentro.

Novamente perdidos e longe de qualquer sinal de civilização, encontramos um senhor consertando o seu trator.

Pergunta de praxe: por favor, onde fica Freixieiro de Soutelo? Qual não foi a nossa surpresa ao ouvir a resposta: “É aqui!”

Não, não tínhamos falado grego, pois repetimos a pergunta e a resposta foi a mesma.

Próxima pergunta: mas, senhor, onde fica a vila de Freixieiro de Soutelo? A resposta foi a confirmação cabal de que nosso idioma e o dos nossos patrícios muitas vezes são como água e óleo: “mas não tem vila nenhuma!”

Bem, vamos traduzir essa zorra para o português... o nosso, é claro. Se você estivesse perdido no meio do mato, a 20km de Unaí, mas dentro do município, e alguém lhe respondesse que Unaí era ali, ele não estaria gozando de sua cara. Afinal, aquele trecho de terra faria parte de Unaí, concorda? Típica resposta de português!!! Anote aí, mais uma piada ao vivo!!!

E quando perguntamos pela VILA de Freixieiro de Soutelo, era porque nada menor que vila me veio à cabeça. E igualmente o senhor estava certo, pois Freixieiro de Soutelo é tão pequena que nem vila consegue ser. Não passa de uma FREGUESIA!!! Pois eu nem sabia que freguesia existia. Mais uma resposta típica de português!!!

Depois de uns 15 minutos tentando ajustar o nosso português com o dele, seguimos viagem para finalmente encontrar a tal de Freixieiro de Soutelo dos nossos antepassados. Mas, com o perdão da má palavra, aquilo ali é o %#@$*& do mundo!!!


A propósito, você por acaso sabe o que é uma freguesia?! Não? Nem eu!! Mas é o que por aqui eles denominam aquilo que é um SUBNITRATO DE PÓ de vilarejo!!


Mas valeu a pena! Em nome de Bárbara de Alencar, do escritor José de Alencar, do senador José de Alencar (pai do escritor), do almirante Alexandrino de Alencar, do presidente Castelo Branco, do governador Miguel Arraes, do seu neto governador Eduardo Campos, dos escritores Raquel de Queiroz, Pedro Nava e Paulo Coelho, do cartunista Jaguar, do poeta e compositor Patativa do Assaré, dos pintores Albery e Oscar Araripe, do cineasta e diretor de TV Guel Arraes e de tantos outros Alencares, batemos o ponto e marcamos presença em Freixieiro de Soutelo. Mas confesso que precisei de muita força de vontade.


O dia terminou em Viana do Castelo, num feliz reencontro com a civilização!


A ponte aí de cima foi projetada e construída pelo engenheiro Eiffel, o mesmíssimo da Torre Eiffel. Aí em baixo... bem, vocês nem podem imaginar a quantidade de noivas e de casamentos que nós vimos nessa viagem!!!