Veja também os demais posts da série “Pequenas roubadas”: "I - Cartão de crédito recusado", "II – Mais cartão de crédito", "III – Bagagens perdidas e overbooking", "IV – Conjugando o verbo goiabar", "V – Extorsão em Praga”, “VI – Situações de alta tensão", e "VII – Pânico em Sidney".
Ninguém dá valor à saúde até que vê a mesma escorrer por entre os dedos!
Falo isso porque, ao ler o meu post “Kamayurá – Nasci de novo!!!”, um colega, dos meus tempos de Anatel, me perguntou se eu não ia publicar o causo de minha última viagem internacional a serviço.
Realmente vale a pena relatar, pois mostra o quão vulneráveis estamos quando cruzamos a fronteira.
Era uma reunião da CITEL, órgão especializado em telecomunicações da OEA e estava sendo realizada em Mendoza, Argentina. A cidade, famosa por suas vinícolas, vale exatamente por isso. De resto, não chega a ser uma brastemp e é tão provinciana que a cidade para na hora do almoço. Qualquer coisa que não seja restaurante, fica fechada das 12:00 às 15:00, a hora da siesta.
Mendoza, Argentina |
Ou seja, é ir do hotel para a reunião, da reunião para o restaurante, de lá para a reunião e retornar para o hotel para estudar os documentos que serão apresentados no dia seguinte. Belo programa, concorda?!
Mas minha chegada à Mendoza foi “triunfal”! Direto para o banheiro e lá me “hospedei” por um longo e tenebroso período!!
A conexão para Mendoza foi em Santiago e almoçamos no aeroporto. Escolhemos um restaurante que era a versão chilena do Outback e, como era de se esperar, pedi umas “ribs” que estavam realmente apetitosas.
O problema começou a aparecer com uns roncos infernais que vinham do meu estômago, já perto da hora da conexão para Mendoza. Entrei no avião suando frio, pousei rezando por um desembaraço rápido na alfândega e imigração e cheguei no hotel correndo para o banheiro do quarto, enquanto esse colega terminava o check-in lá na recepção do hotel.
Mendoza - centro da cidade |
Daí em diante, foi vômito e diarréia um sem número de vezes, a ponto chegar a pedir que ele me levasse a um hospital. Como última alternativa, antes do hospital, ele fez uma prece e aplicou o johrei, benção da Igreja Messiânica, da qual faz parte. Apaguei e dormi por mais de uma hora.
Acordei bem melhor, com ele me passando um pouco de soro fisiológico que tinha comprado numa farmácia. Não tive mais problemas.
Não estou querendo que ninguém acredite nos poderes do johrei, nem espero que alguém substitua um hospital por uma benção com imposição das mãos. Estou apenas relatando o que se passou comigo.
O importante era que tinha um excelente seguro saúde para cobrir eventuais despesas médicas e hospitalares... o que nem sempre é comum em viagens internacionais a serviço do governo.
Mendoza - Plaza Sarmiento |
Lembro-me que nos anos 90, um companheiro de Telebrás, que estava a serviço do Ministério das Comunicações, teve um infarto em Montevidéu... e por desleixo do Ministério, não estava coberto por seguro saúde. Resumindo a estória, assim que melhorou um pouco, foi transferido para Brasília numa UTI aérea.
Dá para imaginar o transtorno e o prejuízo que ele teve que assumir? A conta ficou maior do que comprar um apartamento de dois quartos em nossa bela e cara capital.
Como muito poucos são os que tem cacife para bancar uma conta desse quilate, jamais viaje sem estar coberto por um seguro saúde. Além disso, viaje com todos os remédios que você usa ou pode vir a usar: de remédio para pressão alta a comprimido para enxaqueca, leve uma farmacinha de respeito. Inclua remédio para alergia, queimadura de sol, picada de mosquito, cistite, gripe e todos os demais etcs que puder imaginar.
Não sou hipocondríaco, mas se tiver que tomar um remédio controlado, devido a uma crise inesperada quando estiver no exterior, inevitavelmente você vai ter que ir a um médico e fazer 1000 exames, para o médico receitar exatamente o que você já sabe que tem que tomar.
Mendoza - Cordilheira dos Andes visto de uma vinícola |
Por exemplo: em 1990 fiz um curso de três meses em Lowell, Massachussets. Já perto do fim do curso a Mary desembarcou por lá. Depois de quase dois meses “mordendo canto de parede”, desnecessário dizer que voou pena pra todo lado quando nos encontramos. Não deu outra: em menos de 24 horas depois ela estava com uma crise braba de cistite. Como ela não tinha levado remédio e não dava para comprá-lo em uma farmácia qualquer, teve que baixar hospital, fazer um monte de exames... para só então o médico receitar exatamente o mesmíssimo remédio que ela tomava por aqui.
Essa crise de cistite também aconteceu em Santorini, Grécia. Mas em um país tão bagunçado como o Brasil, o dono da farmácia abriu uma exceção e vendeu o remédio para ela.
No Havaí, eu tive uma crise alérgica a um protetor solar e fiquei com o corpo inteiramente empelotato. Depois dessas, não saímos sem colocar na mala uma lista de remédios que temos em um check-list.
Seja como for, não saia de casa sem ter em mãos o seu seguro saúde e leia as instruções durante o vôo, para saber exatamente como proceder em caso de emergência. Mas leve sua bolsinha com os remédios mais usuais! Afinal, seguro morreu de velho!!!
Edu, muito importante o lembrete. Viajei uma vez sem seguro-saude (não estava embutido no pagamento via cartão de crédito como falaram) e tive pneumonia nos EUA. Por um atendimento de 3 horas, alguns exames e um (um mesmo) comprimido quiseram me cobrar quase 4500 dolares. Briguei por 6 meses e diminui para 1600 mas mesmo assim foi uma fortuna para o que foi feito. Sempre leve o seguro e seus remedios.
ResponderExcluirPrezado Edu,
ResponderExcluirComo é que você considera uma cidade que fica fechada das 12h00 às 15h00 para a "siesta" como uma cidade provinciana? Trata-se de um dos exemplos mais qualificados de modernidade, mesmo em se tratando de uma tradição em várias partes do mundo.
Abraços "Ginasianos Modernos"
Mauricio Magalhães