quinta-feira, 2 de junho de 2011

Pequenas roubadas VII - Pânico em Sydney

Veja também os posts "Pequenas roubadas I - cartão de crédito recusado", "Pequenas roubadas II – mais cartão de crédito", "Pequenas roubadas III – bagagens perdidas e overbooking", "Pequenas roubadas IV – conjugando o verbo goiabar", "Pequenas roubadas V – extorsão em Praga” e “Pequenas roubadas VI – situações de alta tensão"

Ao ler o post anterior, a Marcela, minha sobrilha (sobrinha que virou filha), me mandou esse relato. Hoje é de dar boas risadas... mas imagino o perrengue que passaram!


1998: Estávamos eu e uma amiga visitando a host family que abrigou a Flávia, minha irmã, em Melbourne... Visita feita, fui abastecida de maçãs, pipoca e uns biscoitinhos horrorosos para encarar o busão para Sydney. Deram dicas sobre a cidade, falaram da Opera House, Harbour Bridge e blábláblá... A ÚNICA recomendação foi "NÃO VISITEM KING´S CROSS POR MAIOR QUE SEJA SUA CURIOSIDADE". Ok! Afinal, nem daria tempo, pois a estada na cidade seria muito curta.

Estávamos simplesmente acabadas de tanta farra em Melbourne e dormimos quase a viagem toda. Às 2 da manhã, um mocinho franzino, empregado da empresa de ônibus, nos acorda avisando que já estávamos na garagem da empresa, parada final daquela linha... Considerando que não tínhamos onde dormir mesmo (coisas de adolescente e que, agora que serei mãe, vou encher de porrada o meu filho se ele fizer algo parecido), pensamos: "Ah, ok... Vamos ver qual é"... Mesmo porque a viagem toda tinha sido assim, era a última parada e estávamos sãs (ou quase) e salvas!!

Na esquina, um amistoso grafite dizia "King´s Cross: things that you could never imagine happen here" (King’s Cross: coisas que você nunca imaginou acontecem por aqui)... PÂNICO!!!!!!!!!!

O primeiro pensamento foi: será que temos muita cara de turista?? Claro que não... Botinha da Redley, short tipo camuflado, um mapa embaixo do braço, bronze do verão brasileiro, câmera pendurada no pescoço e um simpático backpack de 12kgs na corcunda... Tava sossegado então!!

A entrada mais próxima que PARECIA segura era o Mc Donalds... Doce ilusão! Enquanto nos trocávamos, pessoas cheiravam cocaína na pia... Se fossem "pessoas normais que cheirassem cocaína" até que tudo bem (já que tá no inferno, abraça o capeta), mas eram quase alienígenas... Pessoas com piercings que iam do nariz à orelha, passando por um gancho no lábio, cabelos coloridos, arrepiados, tosados, tatuagens no couro cabeludo, roupas que brilhavam no escuro, com direito a lâmpadas tipo árvore de Natal... Tinha um cidadão que tinha até uma daquelas bolas de ferro de presidiário amarrada no tornozelo, a qual ele carregava ao andar... Ou seja, só gente fina!! Eu me sentia a própria Tina Turner no filme Mad Max, o maior sucesso de bilheteria do cinema australiano... Até procurei mas não consegui achar o Mel Gibson por lá...

Quase com cara de "Ozzy People" e tentando camuflar a gigantesca mochila (bem que me falaram que era besteira levar uma panelinha...), fomos procurar o que comer. Ah, no Mc não rolava... A atendente tinha mais cara de suja que meu mecânico! Sem falar na procedência duvidosa do molho barbecue que só faltava ser fluorescente...

O bar da esquina não tinha tanta cara de doido. Pessoas mais velhas, com umas roupinhas de couro, mas ajeitadas... Ao entrar, alguém perguntou: vocês entendem bem o inglês?? Que diabos de pergunta é essa? Pra pedir um cheeseburguer e uma coca preciso dominar a língua falada e escrita?? Bom, a pergunta tinha fundamento... Era um bar que tinha arremesso de bumerangue por pessoas já "levemente" alcoolizadas, porém, educadas... que avisavam antes de arremessar... Supimpa!

Comemos e fomos pra rua... Procurando um canto pra dormir, só encontrávamos hotéis que não se encaixavam no nosso humilde orçamento de intercambistas.

Lá pelas 4 da matina, encontramos um lugar viável e minimamente normal. Servindo Space Cake de boas vindas, era possível escolher a opção de "andar misto": homens e mulheres dormiriam onde quisessem, dividiam o banheiro e sabe se lá mais o quê!! Acreditem: era MAIS caro que o "regular" (vulgo "sem graça", para eles...). Brinquei perguntando se não havia a opção de se dormir em pé e de olhos abertos... Não foi uma brincadeira bem recebida, diga-se de passagem...

Estávamos num prédio gigante, tipo Hotel California, onde, para dormir, você usava um cadeado para prender sua bagagem ao pé da cama e, na porta do quarto, havia algo parecido com um "não perturbe", mas que, na verdade, permitia ou não que as pessoas entrassem no seu quarto para te levar para as festas internas... Mas nem pensar!!! Incrivelmente, essa aviso simpático também ficava preso na janela... Não me atrevi a olhar pro lado de fora e descobrir o motivo...

O despertador era previamente marcado. Tocava às 5, 6, 7, 8 e 9, você querendo ou não... Por despertador entende-se uma criatura com altos níveis de drogas no cérebro, sangue, buraco do nariz, do ouvido etc cantando no "videokê" que tinha canal aberto em todos, sim toooodos, os quartos.

A experiência, hoje, é engraçada, mas, se valeu pra alguma coisa, foi apenas pra contar estória...

Diz a lenda que agora em 2011 o local é menos doido... Sinceramente, não pago pra ver...

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