quarta-feira, 6 de março de 2013

Considerações Bolivarianas


Veja também o post "Aló, Presidente!"


Chávez esticou as canelas. Acho que demorou porque nem Deus nem o capeta estavam dispostos a aceitá-lo, tendo em vista as confusões que ele certamente irá aprontar, seja no céu, seja no inferno!

Não importa se você o admira (o que certamente não é o meu caso) ou não, mas temos que reconhecer que ele marcou uma época. Na Venezuela e no resto desta sofrida América Latina.
Caracas
Durante minha vida profissional, fui cinco vezes à Venezuela em delegações oficiais e participei sei lá quantas vezes de reuniões e eventos com os venezuelanos. Não sou nenhum especialista em Venezuela bolivariana, mas posso falar um pouco do que vi, vivi e conversei com meus amigos venezuelanos.

Chávez é um produto do desencanto de uma sociedade com a podridão do seu sistema político. Surgiu como o salvador da pátria, que engana a todos com o seu canto de sereia. E temos que tomar cuidado para que esse mesmo fenômeno não se repita por aqui. Já batemos na trave com o Collor, nosso caçador de marajás. Felizmente não colou, mas aí está o PT achando que os fins justificam os meios!
Vista do alto do edifício da Conatel
Em um momento onde as instituições estavam esgarçadas por décadas de desprezo da oligarquia venezuelana pelos menos desfavorecidos e, onde a corrupção era algo corriqueiro nas menores situações do dia-a-dia, surge o Chávez com um discurso moralizador e em defesa das camadas mais pobres. Foi o mel na sopa!

Mas talvez seja esse o maior legado do Chávez. A ruptura com esse sistema falido e uma guinada em direção aos menos favorecidos, reduzindo a pobreza e a desigualdade. O problema é como isso foi e continua sendo feito.
Casa de Simón Bolívar
Fala-se que o Chávez não pode ser considerado ditador, uma vez que foi eleito pelo povo. Até concordo que foi eleito, mas isso não significa necessariamente democracia. Ou então teríamos que considerar que nossa ditadura militar era igualmente democrática. Afinal, tínhamos Congresso, o Supremo funcionava e votávamos, lembra-se?! Situação bem semelhante ocorre na Venezuela. Mas as leis são manipuladas para a manutenção do sistema e não há a menor independência dos poderes.

Mais que isso, ai de um funcionário público ousar se expressar contra o governo ou tomar qualquer atitude que não tenha sido previamente autorizado. Não tenha dúvidas que ele será sumariamente demitido e, como o governo é o grande empregador, ficará na rua da amargura. A delegação venezuelana se borrava de medo da representante do partido, que atendia pelo nome de Laila MacAdam. Não podiam soltar um pum ou respirar sem que fossem autorizados e tudo o que diziam, mesmo o mais banal, podia ser interpretado de uma forma política.
Assinatura de Memorando de Entendimentos entre Anatel e Conatel
A economia venezuelana sempre foi precária e fortemente dependente das exportações de petróleo. Com todas as estatizações e intervenções bolivarianas nas poucas empresas de capital privado, a economia foi para o espaço, destruindo toda a estrutura produtiva venezuelana. A competitividade e produtividade das empresas (incluindo a petroleira PDVSA) é zero, a inflação chega aos 28% anuais, o câmbio oficial é uma obra de ficção, o desabastecimento é notório, a corrupção continua na mesma e a violência é a maior de todo o continente.
Pátio da casa de Simón Bolívar
Mas como então que Chávez pode ser endeusado? Ah, meu caro, se você pensa que o Bolsa Família escraviza, imagine então o que se passa na Venezuela, onde os dólares fáceis do petróleo caro não deixa nunca de entrar nos cofres do governo. Se eu fosse cidadão venezuelano, não tivesse um mínimo de esclarecimento e o "Comandante Chávez” me desse casa, comida e emprego e eu apenas precisasse fingir que trabalhava, em troca de uma fidelidade canina ao "líder supremo", eu também amaria de paixão esse indivíduo e aplaudiria como foca amestrada!
Cama de Simón Bolívar
O problema de todo esse assistencialismo é a dependência de tudo e de todos aos preços caros do petróleo. Isso não se sustenta a longo prazo. Só não vê quem não quer. OU NÃO PODE!

E aí está outro problema venezuelano: o radicalismo com que os problemas nacionais são discutidos. Quem é da oposição está contra a Venezuela, dizem os chavistas. São lacaios dos americanos, inimigos do povo e exploradores dos mais pobres. Quem se opõe ao bolivarianismo chavista certamente é um oligarca ou burguês. Você até pode ter visto esse filme por aqui, mas não imagina o que se passa por lá!
Subindo de teleférico o Cerro El Ávila
Sob forte comoção popular, não tenho dúvidas de que os chavistas ganharão fácil a próxima eleição. O problema vai ser cair na realidade dura do futuro de médio e longo prazo, sem ter a figura carismática do Chávez como respaldo.

Seja como for, a Venezuela é um país lindo e os venezuelanos um povo amigo e acolhedor. Certamente merecem dias melhores e menos sombrios que esse bolivarianismo insano que faz o povo acreditar em mágica.
É assim que vejo o futuro da Venezuela... BEM ENEVOADO!!!


Nenhum comentário:

Postar um comentário