sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Kamayurá – Ikatu kamayurá



Veja também os posts da série “Kamayurá”: “Arewawak!!”, "Motap!!", “Aldeia Morená”, "Nasci de novo!!!", "Karaiwa", "Mavutsinim" e “Moitará”.

Amanhã, 15 de novembro, é o dia do meu segundo aniversário no ano. Amanhã faço 3 anos em que escapei de um infarto, que se tivesse ocorrido 48 horas antes teria sido fatal. Por quê? Porque eu estava muito, mas MUITO longe da civilização, no Parque Indígena do Xingu.

Em novembro de 2011 passei por uma experiência única e inesquecível: 15 dias trabalhando pesado em uma aldeia indígena. Vivenciei o dia a dia dos kamayurás, na remota aldeia Morená, no Xingu.
Mapa da Aldeia Morená
Meu irmão coordenava um projeto de preservação de tracajás, uma pequena tartaruga de rio, que teve sua população radicalmente diminuída devido a caça predatória feita pelos próprios índios.
Rio Xingu
Durante o tempo que o projeto esteve ativo na aldeia Morená, a coleta de ovos, assim como a caça de filhotes e de animais adultos esteve proibida na região.
Índias kamayurás
Mais que isso, dezenas de milhares de filhotes foram protegidos e devolvidos à natureza. E devolvidos em áreas onde a probabilidade de sobrevivência era mais alta que a oferecida pela própria mãe natureza, que muitas vezes é cruel com esses desprotegidos filhotes.
Caturritas pousadas numa oca
Não é apenas o índio que adora comer tracajá. A natureza é pródiga em predadores: jacaré, urubu, iguana e, principalmente, a raposa, adoram comer filhotes e ovos de tracajá.
Tapi'irap, a mulher do cacique
O trabalho na coleta dos filhotes, nas diversas praias protegidas, foi uma experiência marcante. Mas estar 15 dias em contato com uma cultura 100% diversa da nossa foi algo inesquecível.
Pescado de manhã, comido no jantar
Confesso que eu entraria em depressão profunda, se tivesse que viver me alimentando da “culinária” kamayurá por um longo tempo. 15 dias foi mais que suficiente!
Preparando o beiju
Por outro lado, vivi dentro de uma realidade que nem nos meus mais loucos sonhos poderia imaginar que existisse. Em especial a cultura agrícola familiar e a caça e pesca de sobrevivência. Pesca-se no almoço... o que se vai comer no jantar.
Oca kamayurá
Fala-se muito da miscigenação da sociedade brasileira. Estar em uma aldeia kamayurá é vivenciar essa mistura de culturas sendo executada no dia a dia e presenciar como uma cultura mais frágil vai sendo triturada pela cultura predominante.
Curumins
As lendas kamayurás que eram contadas pelos mais velhos aos mais novos ao redor de uma fogueira, foram definitivamente substituídas pelo gerador de energia que alimenta as TVs de LED que transmitem a novela das nove. O tradicional corte de cabelo indígena foi substituído pelo moicano a la Neymar. A rígida hierarquia indígena é contestada pelos mais jovens. Afinal, não é assim que os jovens da cidade grande o fazem?!
Futebol disputado entre as mulheres kamayurás... descalças!
Foram dias intensos! E só tenho a agradecer o carinho com que fui recebido e tratado por todos, na aldeia Kamayurá Morená.
Rastros de estrelas
Obrigado! Ou, como se fala na língua deles, IKATU Kamayurá!!! 
"Cacique" Edu

2 comentários:

  1. Lindas fotos, Edu! E Feliz Segundo Aniversário do ano! Show!

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  2. Paulo Roberto Ferreira Passos18 de nov. de 2014, 10:51:00

    Meu caro,
    Você ficou bem na foto. Creio que você não nos deixou dessa para melhor porque estava na nobre tarefa de salvar criaturas tão frágeis quanto necessárias a nossa rica natureza.
    Parabéns, um abraço,

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