sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Kamayurá – Karaiwa




 
Karaiwa significa "homem branco" na língua Kamayurá. E não há como impedir o avanço da cultura do branco sobre a cultura indígena. Pensar ou atuar no sentido contrário é simplesmente uma utopia.

No entanto, devem ser as próprias lideranças indígenas que devem determinar o grau de aculturamento que desejam.

Brincando com a água

Nós brancos, no meu ponto de vista, devemos buscar o registro das línguas, da mitologia e da cultura das diversas etnias indígenas, antes que elas se percam definitivamente.

Lá na Aldeia Morená, algumas vezes eu acordava com o cantar dos pássaros, bem antes do sol nascer.

Loite de lua cheia sobre o Rio Xingu

Pode até parecer romântico ser despertado com o cantar dos pássaros. A realidade era um pouco diferente. Nossa oca ficava no limite da aldeia e bem perto de uma mata. Mais que um romântico cantar de pássaros, o que ocorria na verdade era uma baita barulheira com um buzilhão de pássaros diferentes cantando todos ao mesmo tempo. Ou seja, não dava para ficar dormindo.

Levantava e ia passear pela aldeia. E qual era o próximo som que ouvia? Música sertaneja vindo do rádio da oca do cacique. Ou seja, a invasão da cultura branca começava bem antes do nascer do sol.

Makwará, o filho caçula do cacique Iawapi


A nudez é encarada naturalmente dentro da aldeia, mas dificilmente um índio ficará nu perto de um branco, a menos que haja uma cerimônia religiosa ou festiva. Por diversas vezes percebia, ao longe, uma índia com os seios descobertos. Pois bastava você se aproximar para ela puxar o vestido e se cobrir.

A nudez é algo natural entre os kamayurás, mas apenas se vê em cerimônias especiais


As crianças colocam roupa apenas quando vão para a escola da aldeia. Na Aldeia Morená, pelo menos, aprendem tudo não apenas na língua do branco, mas igualmente na língua kamayurá. Depois da aula, se ficam nuas ou vestidas é uma decisão delas.

A pequena Talita


O dia-a-dia da tribo se resume a trabalhar na roça, a pescar ou a atividades de manutenção na tribo. Seria tolice imaginar que ainda usassem os primitivos utensílios e ferramentas de seus antepassados.

O cacique Iawapi em sua roça


E quando o sol se põe na aldeia Morená, o gerador a diesel é ligado... para que todos possam assistir às novelas da Globo em suas televisões de LCD ou plasma. Muitos possuem aparelhos de DVD e posso garantir que o Iawapi, cacique da tribo, tem a coleção completa dos filmes do Rambo... versão pirata, é claro!

Bicicleta e antena parabólica, dois símbolos da cultura branca na aldeia kamayurá


Antigamente, esse era o momento onde toda a tribo se reunia ao redor de uma fogueira para ouvir as estórias e mitos indígenas contadas pelos mais velhos. Na medida em que esse momento é substituído pela televisão, a cultura aos poucos se esvai.

Tawaku, indio Kuikuro que mora na Aldeia Morená

E é no jovem que mais se percebe a influência da cultura do branco: óculos escuros colocados na nuca, headphone nos ouvidos tocando MP3, bermuda de surfista, cabelo moicano a la Neymar... fica difícil, MUITO DIFÍCIL fazer com que eles queiram perpetuar a cultura dos seus pais e avós.

Lá, como qualquer brasileiro de norte a sul, todos (inclusive as mulheres) amam o futebol e torcem por algum time. A maioria torce pelo Vasco, mas os quatro grandes do Rio e São Paulo estão homogeneamente representados por aqui.

Sula dominando a bola!


O dia acaba quando acaba a última novela da Globo. O gerador é desligado e o silêncio cai sobre a aldeia.

Boa noite!



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