quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Kamayurá – Arewawak!!


Nada como começar um post dando bom dia a todos. E esse tem que ser um bom dia especial: AREWAWAK para todos vocês!

Para quem não, sabe estou em uma aldeia Kamayurá, no meio do Parque Indígena do Xingu. E arewawak é bom dia em kamayurá, uma das muitas línguas originadas do tronco tupi.

E o que estou fazendo aqui? Estou trabalhando como colaborador no Projeto Tracajá, coordenado pela Embrapa, com o financiamento da Petrobrás.

Percorrendo de barco o Xingu

Todos vocês conhecem o Projeto Tamar – Tartarugas Marinhas. Pois o projeto Tracajá é muito semelhante, só que trabalha com o tracajá, uma das espécies de tartarugas da região amazônica.

A faina por aqui é pesada: acordamos bem cedo, tomamos café, recolhemos no berçário as tartaruguinhas que serão devolvidas à natureza, pegamos o barco e vamos para as praias do Koluene (para os índios, Xingu para nós).

Na praia 5 tem uma pequena lagoa onde soltamos os filhotes. É uma lagoa protegida, sem peixes grandes que se alimentariam dos filhotes. Ali os filhotes crescerão protegidos até que a cheia do Xingu alague a área e “libere” os filhotes.

Lagoa, na praia 5, onde soltamos os filhotes

A próxima parada é a praia 6. Como em todas as praias, percorremos todos os ninhos protegidos em busca de filhotes recém nascidos. Infelizmente não são registrados apenas o nascimento de filhotes, mas também a predação.
E se o tracajá faz parte da dieta dos índios por ser delicioso, o ser humano não é o único ser vivo a querer comê-los: urubu, iguana, jacaré e principalmente a raposa são os maiores predadores de ninhos. Para cada 10 ninhos eclodidos, encontramos uns 4 predados.

Filhote de tracajá recém nascido
Retirando os filhotes do ninho protegido

Filhotes de tracajá

O interessante é que a raposa, animal extremamente inteligente, já aprendeu que onde tem ninho protegido com tela, tem alimento garantido. Às vezes encontramos um rastro de raposa na areia e ele percorre de um ninho diretamente ao outro.

Ninho predado por raposa

A praia 6 é a mais distante e, aos poucos vamos percorrendo todas as praias até retornarmos à aldeia.

Posso garantir uma coisa, caminhar na areia fofa com o forte sol do Xingu batendo na moleira NÃO É NADA FÁCIL!!!

De tarde o trabalho é no laboratório. Fazemos o registro do nascimento/predação nas planilhas de dados, marcamos os filhotes, coletamos DNA, fotografamos o casco de cada filhote de ninhos selecionados e colocamos os filhotes no berçário.

Berçário com filhotes de tracajá

Não sei por que cargas d'água os filhotes adoram se amontoar em um canto do berçario!

Terminamos o dia num cansaço danado, mas satisfeitos de estarmos ajudando a natureza na recuperação da população de um animal cujo número tem diminuído sensivelmente nos últimos anos.

E neste esforço, somente no ano passado, o Projeto Tracajá devolveu à natureza mais de dez mil filhotes.

Para mim, além dessa satisfação ecológica, tem algumas outras.em paralelo: ter contato com uma tribo indígena e sua cultura e poder fotografar o dia-a-dia de uma aldeia.

4 comentários:

  1. Edu!

    Realmente deve estar vivendo uma experiência fantástica. Parabéns pela iniciativa. Tenha uma ótima temporada por aí.
    Grande abraço. Geraldo

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  2. Edu. Arewawak.
    Muito bonito o trabalho e a experiência. Infelizmente são poucos a fazer alguma coisa a favor. Acho que a mudança de habito dos indios e da população de maneira geral ajudaria muito nesta questão das tartarugas, já vivas, e dos ovos também. Tem um email que mostra uma multidão recolhendo ovos em uma praia aqui na America do Sul que é um absurdo mesmo.
    Saúde e paz.

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  3. oi tio!
    aqui é a mari e a lulu, estamos muito felizes que voce está gostando!
    sabemos muito bem como é andar nessas praias =P fica melhor andando descalso.
    sempre é bom ver seu blog porque assim sabemos que esta tudo bem com voce e papai (percebi que nem mencionou ele mas tudo bem)
    muitas saudades e beijos a todos,
    Mariana, Lúcia e Susie =D

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  4. Oi Edu, legal o trabalho feito por lá. Seja bem vindo de volta e tenha uma boa recuperação. Abraços. Wellington-Fabiana-Amanda

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