quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Kamayurá – Mavutsinim




Enquanto estive entre os Kamayurás, li o livro “Xingu – Os Índios, Seus Mitos”, escrito pelos irmãos Villas Boas.

As estórias lá descritas são fantásticas e cheias de detalhes. Aqui vou contar a vocês a versão reduzida de dois mitos: o de Mavutsinim e o do Kuarup.

Mavutsinim é a figura mítica que representa o primeiro homem. Foi ele que criou os gêmeos sol e lua e todos os demais povos xinguanos, entre eles os kamayurás.

Nuvens refletidas no Rio Xingu

Conta a lenda que, “no começo, só havia Mavutsinim. Ninguém vivia com ele. Não tinha mulher. Não tinha filho, nenhum parente ele tinha. Era só!

Um dia ele fez uma concha virar mulher e se casou com ela. Quando o filho nasceu, Mavutsinim perguntou para a esposa:

- É homem ou mulher?

- É homem!

- Vou levar ele comigo! disse Mavutsinim.

Takará e sua oca

A mãe do menino chorou e voltou para a aldeia dela, a lagoa, onde virou concha outra vez.

Nós, dizem os índios, somos netos do filho de Mavutsinim!”

Meu nascote é um macaco aranha!!!

O que não fica bem explicado, e bem menos explicado que no bíblico Adão e Eva + Caim e Abel, foi como apareceu esse montão de gente que nos rodeia! Mas lenda é lenda, concordam?!

Noite de lua nova na Aldeia Morená

Outra lenda muito interessante é a do Kuarup, da qual tem origem a grande festividade onde se comemora, no Xingu, o rito de passagem da morte.

“Mavutsinim queria que os mortos voltassem à vida.

Nascer do sol no Rio Xingu

Cortou toros de madeira de kuarup (um tipo de árvore sagrada da região do Xingu), pintou e adornou com penachos, cocares, braçadeiras e fios de algodão. Fincou os paus na praça da aldeia e chamou o sapo cururu e uma cutia (dentro da lenda e no imaginário dos índios, muitos animais eram gente no passado) para cantar junto dos kuarups. Todos os homens da aldeia comeram beiju e peixe e começaram a se pintar e a gritar. Quando quiseram chorar os seus mortos, representados pelos kuarups, Mavutsinim não deixou porque os kuarups iriam se transformar em gente. Mandou todos para suas ocas, porque os homens não podiam ver os kuarups.

O vôo do "corta água"

No fim do terceiro dia, quando a transformação estava quase completa, Mavutsinim chamou a todos de suas ocas para que saíssem, gritassem, fizessem barulho, promovessem alegria e rissem junto dos kuarups. Apenas aqueles que tivessem uma relação sexual com as mulheres, na noite anterior, não poderiam ver os kuarups.

Apenas um dos homens da aldeia teve que ficar dentro da oca. Mas não agüentando de curiosidade acabou saindo depois de algum tempo. No mesmo instante os kuarups voltaram a ser pau novamente.

Curumins brincando

Aí, muito bravo, Mavutsinim sentenciou:

- Eu queria que os mortos voltassem a viver, toda vez que fizessem o kuarup. Agora os mortos não mais reviverão. Agora o kuarup vai ser só festa!

E isso aconteceu na Aldeia Morená, onde Mavutsinim vivia."

Lavando roupa

A Aldeia Morená era exatamente onde eu estava e é, para os kamayurás, o centro do universo!

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