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Kayenta, no Arizona, é a pequena cidade que dá suporte a quem visita o Monument Valley Navajo Tribal Park. Até existe um hotel que fica dentro do parque, mas as diárias disponíveis estavam bem fora daquilo que estávamos gastando na viagem.
Por-de-sol no Mitchell Butte |
Devidamente hospedados no Hollyday Inn de Kayenta, fomos matar a fome que já tinha se instalado e que começava a incomodar.
Bem, pelo tamanho da cidadezinha (pouco mais de 5000 habitantes), que estava no cruzamento do “nada” com “porra nenhuma”, nossas expectativas para o jantar não passavam de um mero Burger King.
Sentinel Mesa com o Stagecoach ao fundo |
Se o que se come em um Burger King não varia, o que nos surpreendeu foi a decoração do local: diversos objetos capturados de soldados japoneses durante a II Guerra Mundial, além de muitas fotos de soldados navajos.
Burger King de Kayenta |
Se você viu o filme Windtalkers (Códigos de Guerra, no Brasil) com Nicolas Cage e Adam Beach, se lembra da estória de um grupo de índios navajo que lutaram ao lado dos americanos na guerra. Além da estória em si, o filme fala muito da discriminação que os índios sofreram por parte dos próprios soldados americanos e do risco que sofriam por parecerem com japoneses. Se não viu o filme, vale a pena ver... ou rever. Para ver o trailer basta clicar no nome do filme em português.
Display de objetos capturados dos japoneses |
É claro que você sabe que, numa guerra, um dos maiores segredos é a proteção das ordens e mensagens trocadas entre as tropas. Para isso se usa pesada criptografia e complexas máquinas. O conhecimento da chave permite a compreensão dessas ordens e mensagens pelo inimigo, tornando-se fundamental na antecipação das ações no campo de batalha. As máquinas de criptografia funcionavam bem para mensagens de texto, mas as transmissões verbais via rádio eram interceptadas pelos japoneses, que usavam soldados bilíngües, muitos deles educados nos EUA, que não somente compreendiam o que era falado como, muitas vezes, davam ordens falsas aos soldados americanos.
Transmissor de rádio usado na Segunda Grande Guerra |
E por quê os navajos lutaram? Porque a língua deles não possui escrita e é quase que indecifrável para quem não a conhece. A idéia era muito simples: os soldados navajos foram usados para a transmissão e recepção entre si dessas ordens, levando muito menos tempo que os operadores de máquina de criptografia. Mais de 400 índios navajo foram recrutados pelos Fuzileiros Navais americanos e, para que em momento algum falassem palavras em inglês, um dicionário de 450 termos foi desenvolvido usando a língua navaja. Por exemplo: avião de caça era chamado de dah-he-tih-hi, que significava beija-flor em navajo.
West Mitten com a Sentinel Mesa ao fundo |
Para cada operador navajo foi designado um "guarda-costas" que tinha a missão de impedir que eles caíssem em mãos dos japoneses. Conforme mostra o filme, no caso de risco de serem feitos prisioneiros, o "guarda-costas" deveria eliminar sumariamente o operador navajo para evitar que pudessem revelar o código usado.
Spearhead Mesa emoldurada pelo tronco de um juniper (zimbro?!) |
Esses bravos soldados navajos foram usados nas batalhas de Guadalcanal, Tarawa, Peleliu e Iwo Jima. Depois da guerra, os japoneses reconheceram que os códigos usados pela Força Aérea e pelo Exército americanos foram decodificados, mas que jamais conseguiram entender o que era falado pelos operadores navajos.
West Mitten com a Sentinel Mesa ao fundo, no amanhecer |
Mesmo assim o reconhecimento do governo americano pelo esforço navajo demorou. E demorou MUITO! Apenas em 1992 os operadores ainda vivos foram chamados ao Pentágono para uma cerimônia de comemoração e apenas em 2001 o Congresso condecorou os 29 operadores originais com a medalha de ouro.
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