Veja também o post “Kamayurá – Arewawak!!”.
É óbvio que a palavra “gastronomia” não existe na língua Kamayurá, até mesmo porque a comida deles não é nenhuma Brastemp para nós, os brancos.
Daniela Kamayurá ralando a mandioca |
O mais próximo de gastronomia dentro da língua Kamayurá é MOTAP, que significa comida. Aliás, termo bem mais apropriado para o que existe por aqui.
A alimentação deles se baseia em beiju de farinha de mandioca e peixe. De café da manhã come-se mingau, feito de farinha de mandioca e água. Tem também um mingau de pequi que quem comeu diz que prefere não repetir a experiência!
Mawirá Kamayurá preparando o beijú |
E aí entra o famoso pequi (peke’i para os kamayurás). Aí em Brasília, quando se fala em pequi, as pessoas se dividem em dois grupos: os que amam o pequi (goianos e parte dos estados vizinhos) e os que odeiam (todo o resto da população brasileira)! Confesso que sempre fiz parte do segundo grupo e só o cheiro me embrulhava o estômago.
Pois aqui estou comendo pequi. Não por falta de opção, mas por pura opção minha. Tô comendo e tô gostando!
Não pense que fui eu quem bandeou de lado. É que o pequi dessas bandas nada tem a ver com o pequi aí de Brasília.
O pequi daí é um pouco maior que um ovo de codorna, enquanto o daqui é maior que um ovo de galinha. O daí FEDE e seu cheiro fica impregnado por onde passa! O daqui é perfumado. O daí tem uma polpa bem fininha, enquanto o daqui é bem carnudo! E, finalmente, o pequi daí tem espinho e o daqui não tem... bem, também não cheguei a mordê-lo para fazer a prova dos nove!!
O enorme e delicioso pequi do Xingu |
Sal?! O sal aqui é retirado de uma planta, o aguapé! É claro que não salga como o nosso e hoje eles usam o sal industrializado!
Assim que cheguei fui recepcionado com um petisco bem torradinho: tanajura! Quem comeu adorou e repetiu. Ainda não cheguei a esse grau de desprendimento gastronômico e fiquei firme no meu preconceito! Agradeci e declinei da iguaria.
Vinicio Kamayurá tomando conta de um pintado |
Perguntei quais as frutas eles comem e me relacionaram quatro: açaí, murici, ingá e camoim. Açaí eu conheço, mas os demais nem tenho a idéia de como são. Seja como for, nenhuma dessas quatro frutas apareceu por aqui na aldeia. Ah, também tem jenipapo, mas é usado para pintura!
Em termos de carne, come-se o macaco que se consegue caçar. A maioria das demais carnes de caça não é comida por eles.
Peixe! É o que não falta por aqui! A cada dia é um peixe diferente e todos são deliciosos!
Tapi'irap e Mawirá lavando os peixes |
Assim que chegamos pescaram uma pirarara enooorme! O bichão devia ter mais de 1,20m e pesar mais de 50kg. Só de boca tinha uns dois palmos de tamanho!
Pois você não imagina a delícia que é uma pirarara fritinha! Uhmmmm!!!
Pintado, manawe, duas cachorras e piranha na brasa |
É claro que nós, os brancos, não estamos comendo 100% da comida dos índios. Sempre tem um feijão com arroz, um macarrãozinho e uma batata para tornar mais digerível o que se come. De café da manhã, café, leite, pão, queijo... e vamos sobrevivendo!
E se nós temos a preocupação em “embranquelar” a nossa comida, as lideranças indígenas têm a preocupação oposta: evitar que os índios se acostumem com a comida do branco e passem a recusar a culinária indígena.
Afinal de contas, não é para menos que eles têm essa preocupação, né?!!!
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