terça-feira, 25 de outubro de 2011

Tomadas, Torneiras e Descargas IV – Banho de água fria



Tomar banho pode ser uma verdadeira façanha em terras alienígenas! Principalmente nos hotéis menores, onde os banheiros não são aquecidos. Dá para imaginar a coragem necessária para sair da cama quentinha, tirar a roupa e enfrentar o chuveiro em um banheiro gelado durante o inverno europeu?

Imagino que seja por essas e por outras que muito europeu passa por você deixando um rastro destruidor capaz de afugentar o gambá mais corajoso! Pior que isso é quando esse distinto resolve levantar o braço dentro de um ônibus ou metrô! O metrô pode até estar lotado, mas é só o malfadado levantar o braço que imediatamente abre uma clareira de dois metros ao redor dele e os demais passageiros passam a mostrar uma ligeira coloração violácea, típica de indivíduos em apnéia profunda.


Tomar banho frio me lembra duas situações em que vivi durante férias minhas aqui no Brasil.

A primeira foi em Fernando de Noronha, em 1999. Naquela época, para economizar energia elétrica, as pousadas eram proibidas de ter chuveiros elétricos. Apesar de estarmos próximos da Linha do Equador, tomar banho frio sem estar com o corpo quente sempre requeria uma coragem adicional. Assim, eu e a Mary usávamos uma técnica especial para chegar de corpo quente no chuveiro e ganharmos um incentivo adicional. Como a pousada ficava no alto de uma pequena colina, acelerávamos o passo na volta. Chegávamos lá suados e pisando na língua... e adorávamos aquele delicioso banho frio.


Mas em fria mesmo entrei eu no Vale do Ribeira, no sul do estado de São Paulo. No início dos anos 80 estava de férias no sul e resolvi visitar o meu irmão, que fazia seu mestrado em Piracicaba. Fanático por cavernas, ele não perdia uma única oportunidade de visitar as maravilhosas grutas do Vale do Ribeira. Marcamos nos encontrar no acampamento da SBE – Sociedade Brasileira de Espeleologia, em Iguape.

No primeiro dia saímos cedo e visitamos várias cavernas. Só para dar uma breve idéia do tamanho da aventura, nenhuma delas estava aberta à visitação pública. Rastejamos na lama, vadeamos em rios e lagos internos, subimos em estalagmites... resumindo a ópera, chegamos de volta ao acampamento tão imundos que a roupa que eu usava foi jogada no lixo. Impossível lavá-la!


Cheguei ao acampamento exausto e morto de vontade por um banho, mas já tinha uns três na minha frente. Achei um tanto estranho o jogo de empurra daqueles três marmanjos, tão imundos quanto eu. Ao invés de brigarem para saber quem seria o primeiro, a disputa era para saber quem seria o ÚLTIMO a entrar no chuveiro. O que perdeu saiu praguejando para dentro do banheiro. Quinze minutos depois eu caí na besteira de perguntar pro meu irmão:

– Será que o fulano já terminou o banho?!

– Nem começou!

– Ué, como você tem tanta certeza?

– Já, já você vai ver!

E não deu outra. Como se ele tivesse ouvido as proféticas palavras do meu irmão, ouvi o barulho de água caindo do chuveiro e um urro desesperado.

– Sabe – afirmou o meu irmão – a água aqui é tão gelada que não dá para tomar banho sem gritar!!


Quando chegou a minha vez percebi que ele tinha razão! Tomar banho de rio em pleno inverno siberiano talvez fosse uma experiência mais prazenteira. A sensação que eu tinha era a de que não caía água do chuveiro, mas gelo em lascas

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